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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Diário de viagem – PADOVA 1

Pegamos o trem das 20.29h de Verona para Padova, o mesmo se mostrou muito confortável, e chegamos as 21.12h na estação. A estação é meio “barra pesada”, mas muito bem policiada e, segundo a moça do hotel nos falou no dia seguinte, ela é segura. Fomos então de táxi (pegamos na porta da estação, sem maiores dificuldades) para o hotel.
Pegamos esse trem, que seguia para Veneza, na estação de Verona. Há trens mais simples que fazem o trecho, mas esse, apesar de mais caro, tinha wi-ffi grátis e uma frequência fashion. Muito confortável e me pareceu o paraíso depois do frio que pegamos na plataforma de embarque. Acho que pela hora, ele estava bem vazio. Há um controle rigoroso das passagens no embarque, cuidado com o seu horário.

Ficamos hospedadas no Albergo Verdi (Via Dondi dall'Orologio, 7, próximo a praça do Duomo), que escolhi pelo bom preço e boa localização (como sempre, fechei no booking.com; indicado no guia Fodor's). Adoramos o atendimento (recepção 24h). Havia uma francesa na recepção no dia seguinte que foi muito simpática com minha mãe, que no fim do dia estava cansada, e nós já tínhamos feito o check-out. Mas, no fim da tarde, esta nos ofereceu um chá e permitiu que minha mãe ficasse na sala de estar com TV e biscoitinhos. A francesa nos contou sobre como foi parar na Itália, ela que antes morava em Paris. Muito interessante.

Ao lado do hotel fica a pizzaria Dai Gemelli, um dos poucos lugares onde se pode comer tarde em Padova. E lá fomos nós. Adoramos as nossas pizzas, as melhores que comi na Itália. Os gelatos de sobremesa também estavam ótimos. Super indico essa pizzaria, onde presenciamos uma típica festa de aniversário italiana. Barulhenta e com pessoas muito elegantes... vocês não acreditariam se vissem a altura dos saltos da mulherada, em plena terça-feira, em uma pizzaria. Só as italianas... As nossas caras fashions às 23h, depois de ir de Florença a Verona, e de Verona a Padova, e sem banho ainda, felizmente não fotografamos!!
Nossas pequenas pizzas!

Satisfeitas com o nosso jantar, voltamos para o hotel a fim de tomarmos banho e dormir. Nossas camas eram razoavelmente confortáveis, mas os corpos cansados relaxaram e tiveram uma noite dos justos.
 
A new day...
Um dia fantástico em PADOVA
Pádua não é uma cidade onde os pontos turísticos ficam todos muito pertinho. Por isso escolhi o Albergo Verdi, pois este permite que os hospedes utilizem suas bikes sem custos extras. Só que na hora, achamos melhor caminhar e ver as lojinhas a pé. Acho que foi um erro e os aconselho a andar de bike, pois mamãe acabou o dia “mortinha” e de péssimo humor.  
Seguem os mapas para vocês se localizarem no nosso tour.
 
Lugares visitados do hotel a capela
 
Depois de um belo café da manhã e do primeiro cappuccino do dia, seguimos as 8.30h para a praça do Duomo (onde não entramos), que achamos bem mais ou menos.
Local do café com cappuccino feito na hora, sucos frescos e panines quentinhos!



Do lado de fora do restaurante, no gracioso Albergo Verdi!
Depois de um belo café da manhã e do primeiro cappuccino do dia, seguimos as 8.30h para a praça do Duomo (onde não entramos), que achamos bem mais ou menos.
Seguimos então para as Piazza delle Erbe e Piazza dei Frutti. Uma do lado da outra (ambas belíssimas), separadas apenas pelo Palácio de Exposições. Nelas encontramos os mercados das flores (Piazza delle Erbe) e das frutas (Piazza dei Frutti). Eles são realizados diariamente (de segunda a sexta-feira das 7.30 às 13.30h e sábado 7.30-20h). Na verdade, aí se vende de tudo, até mesmo roupas e belas toalhas de mesa, passando por tecidos italianos interessantes. Adoramos!
Piazza dei Frutti
O leão de Veneza (que no passado dominou Pádua) na Piazza dei Signori

Volto della Corda que une as duas piazzas
 
Piazza delle Erbe e Palazzo della Ragione
La mia bella Itália! Vejam os girassóis!!
 
Imaginem o "precinho" destas maravilhas aqui no Brasil
Essas barraquinhas se chamam "scariolanti" 

A Piazza delle Erbe é uma das praças históricas da cidade de Padova e foi construída em 1930, sendo o Palazzo della Ragione o seu grande destaque. 
Exploramos os mercados e não nos demoramos muito nas praças, pois tínhamos que pegar os nossos Padovacards e seguir para o tour guiado no Il Bo as 9.30h.
Seguimos então em direção ao famoso Caffé Pedrocchi (falo dele mais tarde), atrás do qual encontramos, não muito facilmente (pedimos informação e ficava em um lugar que pareceia uma área do governo com acesso controlado), o IAT escritório de turismo da Galeria Pedrocchi (aberto de segunda a sábado de 9-13.30h/15-19h).
Arcada ao lado do café

Pessoas elegante na porta do Caffé Pedrocchi na Piazza Cavour
Pausa para falar do Padovacard:
Ele existe em duas versões: o de 48h (16 euros) e o de 72h (21 euros). Você pode comprar online e na hora da compra é marcado a data que você poderá usá-lo, de acordo com a sua preferência. Lembre-se: você só pode entrar uma vez, com o card, em cada monumento.
O Padovacard  pode ser retirado em diversos lugares, pré-programe-se:
 
·         Estação Ferroviária IAT, tel: 049 8752077
·         Galeria Pedrocchi IAT (Piazza Cavour), tel: 049 8767927
·         IAT Santo, Piazza del Santo, tel: 049 8753087
·         Abano Terme IAT, Via Abano P.d 18, - tel: 049 8669055
·         Montegrotto IAT, Viale Stazione 60, tel: 049 8928311
·         No caixa do Eremitani Museum (Piazza Hermits, tel: 049 8204551)

Como verão mais abaixo é no Museu Eremitani que você retirará o seu bilhete de entrada para a Capela degli Scrovegni. O ingresso para a capela deve ser comprado com muita antecedência, pois é limitado o numero de pessoas com acesso as obras de Giotto. A compra é, também, feita online, e custa 1 euro se você possuir o Padovacard. É necessário pegar o seu ingresso uma hora antes da sua visita à capela (no site da capela você pré agenda o horário da sua visitação).
O Padovacard dá direito ao acesso gratuito em 10 lugares, a descontos em 20 lugares e a transporte e estacionamento gratuito. Nós ficamos só um dia, mas acho que os cards valeram a pena, pois a diferença de preço para o ingresso simples na capela é muito pequena. Lembre-se que, comprando o PadovaCard online, você precisa saber o seu código de reserva que aparece no final da compra.
Com nossos cards em mãos, seguimos para o Pallazo del Bo, onde fizemos o tour guiado na universidade das 9.15h (pagamos 5 euros). Compramos o ingresso na hora (perto da cafeteria), na baixa temporada, sem problemas. Mas na alta, você deve chegar cerca de 1h antes do início do tour a fim de garantir seus ingressos. Há tour guiado também as 10.15 e 11.15h; eles não aceitam o card.

Palazzo del Bo - Universidade de Padova
O Palazzo del Bo é o lar da Universidade de Pádua desde 1493. Antes disso as faculdades de Pádua se encontravam espalhadas pela cidade, mas gradualmente se reuniram em um grupo de edifícios da Via 8 de Febbraio. Este grupo de prédios era propriedade de um açougueiro, que os recebeu como agradecimento por ter fornecido carne durante o cerco da cidade. O açougueiro tinha aberto nesses edifícios uma estalagem (o Hospitium Bovis) cujo símbolo era um crânio de um boi, ou "Bo".  Quando a propriedade passou para a Universidade, esta manteve o mesmo crânio como emblema, daí vem o nome Il Bo, preservado até hoje.
Na atualidade, o Palazzo del Bo aloja apenas a casa do reitor, a Faculdade de Direito e as salas de aula das faculdades de representação. As cerimónias oficiais e de graduação ainda são realizadas numa das salas do edifício.



Na entrada do palazzo. Só se sobem as escadas no tour guiado
Brasão de família de algum professor ilustre

Símbolos decorativos onde todos os professores históricos da Universidade são listados

Dentre os celebres professores estão Galileo, o matemático Francesco Poleni, o anatomista Andrea Versálio (o pai da anatomia), Falópio e Elena Lucrezia (primeira mulher a se formar numa universidade)
Um pouco da história da Universidade que foi o símbolo da liberdade intelectual entre os séculos XV-XVII:
Acredita-se que ela tenha sido fundada em 1222, quando um grupo de estudantes e professores migrou da Universidade de Bolonha, à procura de maior liberdade acadêmica. Mas as faculdades de Direito e Medicina já existiam em Padova antes disso.
Inicialmente ela era a Universitas Iuristarum onde ministrava-se o ensino de Direito Civil e Direito Canônico, mas já em torno de 1250 iniciou-se o ensino de Medicina e de Artes. A Universitas Artistarum torna-se independente da Universitas Iuristarum, em 1399, graças à intervenção de Francisco II de Carrara, senhor de Pádua. Desde então passaram a existir duas universidades distintas, dotadas dos mesmos direitos e privilégios, cada uma com seu próprio reitor. Era o início do humanismo.
O curso durava 6 anos e os estudantes deviam seguir as lectiones, tomar parte ativa das repetitiones, questiones e disputationes. Os estudantes afluíam de toda a Europa e eram divididos em duas "nações": a Natio Citramontana, que compreendia os estudantes italianos e a Natio Ultramontana, para estrangeiros.
Quando Pádua passa a ser governada pela República de Veneza, em 1405, a sua universidade inicia seu período de máximo explendor. Entre os séculos XV e XVII, ela torna-se um centro de estudo e pesquisa internacional, graças à relativa liberdade e independência da igreja, garantidas pela República de Veneza, bem como à própria potência econômica e política da Sereníssima, da qual Pádua era o centro cultural.
É nesta época áurea que a universidade adota o moto Universa Universis Patavina Libertas ("Inteira, para todos, a liberdade na Universidade de Pádua"), tornando-se o principal centro científico da Europa. Ainda hoje, percebemos na visita guiada como os cidadões de Pádua se orgulham dessa história de liberdade da igreja que começou a ser contada aí.
Não se pode fotografar o tour, então as fotos que mostrarei agora são do site do Il Bo, e servem apenas para vocês imaginarem a visita (e para que eu não me esqueça desse momento sublime!).
Vou falar um pouco do tour que foi maravilhoso para mim (que sou médica) e para mamãe (que é professora de matemática). Abaixo o mapinha do tour, que dura cerca de 40 minutos.
O tour começa na lindíssima sala da aula magna, cheia de afrescos e estátuas que contam a história da universidade. Aí sentamos onde os antigos alunos tinham a suas aulas e ouvimos sobre a história, que em última instância é a história do humanismo. Atualmente a cerimônia de graduação dos alunos da universidade são nela realizados. Pude imaginar a emoção desses jovens...fiquei toda arrepiada.

Aula magna
Após fomos visitar a Sala dei Quaranta, onde mamãe enlouqueceu com a cátedra de Galileo, que dizem é a original...sei não!

Visitamos depois a Sala di Medicina, onde há peças de dissecção originais, retratos dos antigos anatomistas e onde foi a minha vez de enlouquecer de emoção com as histórias. Achei interessantíssimas as homenagens no teatro àqueles anatomistas, e pais da Medicina moderna, que após a sua morte doaram secretamente seus corpos para dissecção. Secretamente, porque naquela época a igreja proibia essa prática, e quando não havia doações de cadáveres, os médicos eram obrigados a rouba-los dos cemitérios na calada da noite.
Essa visita para mim foi inesquecível, e de certa forma me fez lembrar a beleza histórica da minha amada profissão. Afinal, ao contrário do que pensa, hipocritamente, o meu prefeito, os médicos não são delinquentes, apenas se encontram muiiito desiludidos com a qualidade da Medicina que podemos oferecer (graças aos nossos políticos), em nosso país!
Por fim, fomos conhecer o Teatro de Anatomia, onde pudemos ver o anatômico da época, com seus diversos planos (parece uma cebola). Diz-se, antigamente, com o calor (o teatro é todo fechado), que o cheiro era horrível!! Não se entra nele, para manter-se a conservação, nós o observamos de cima (como se vê na foto).

Os não médicos não sabem, mais ainda hoje alguns anatomicos guardam essa arquitetura (tipo cebola)
Um pouco da história do teatro de anatomia, relatada no site oficial e no tour:
O Teatro de Anatomia da Universidade de Pádua é uma dos mais antigos e mais importantes edifícios médicos do mundo. Ele é um símbolo do século XVI, o século em que, graças à anatomia, a Medicina viu romper a concepção de mil anos da cura Galênica.
O Teatro foi construído em 1594, quase cem anos após Alessandro Benedetti (1455-1525) publicar sua obra “De Anatomia”, onde, pela primeira vez, se descreveu um teatro para realização de autópsias. Ainda quase 50 anos antes da sua construção, Andrea Vesálio (1514-1564), o pai da Medicina moderna e professor da Universidade de Pádua, havia publicado o famoso livro “De humani corporis fabrica”.
O Teatro ocupa os dois andares superiores do Palazzo del Bo, indo do lado oeste ao norte do edifício. Sua forma é elíptica, como um cone de cabeça para baixo, com seis camadas concêntricas, cujas balaustradas esculpidas são de madeira de nogueira.
Estudiosos do calibre de William Harvey (1578-1657), Giovan Battista Morgagni (1682-1771) e Antonio Scarpa (1747-1832) estudaram em torno desta mesa de dissecção. Alunos estrangeiros, também, aí se formaram e a partir daí, se dividiram mundo a fora para espalhar o seu conhecimento de dissecção. Dentre eles se destacam os ilustres: Peter Paaw (1564-1617) de Leiden, na Holanda (estudou em 1597) e Thomas Bartholin (1616-1680) de Copenhague, na Dinamarca (estudou em 1643).
Eu sou o tipo de turista que odeia vandalismo, mas confesso que foi enorme a minha vontade de fotografar clandestinamente as peças do antigo anatômico e, principalmente, os desenhos originais dos alunos do Corpo Humano. Feliz ou infelizmente, resisti a esse impulso...
Por hoje, vamos parar por aqui. No próximo post o tour em Pádua continua.
Até lá!


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