A Série Lugares Secretos que Indico visita o Palácio Aljafería, em Zaragoza
Como sabido, os mouros, ao longo de seu
reinado de 800 anos na Espanha, deixaram um impacto rico e duradouro na vida e
nos costumes espanhóis. Um dos legados mais destacados dessa época foi a
riqueza arquitetônica que eles deixaram para trás, a chamada Arte Mudéjar. Ela
é mais evidente na Andaluzia, onde eles construíram o monumental Palácio Alhambra, em Granada, e o famoso Palácio Real Alcazar, em Sevilha. O que muitos
turistas não sabem é da existência do Palácio Aljafería, no norte do país, em Zaragoza. Este
palácio, lindamente preservado, é altamente significativo, pois foi o palácio
mouro mais setentrional da Espanha e da Europa. A Aljaferia foi construída
durante a segunda metade do século XI. Serviu inicialmente como residência da
dinastia Banu Hud. Mais tarde, o palácio foi convertido na residência dos
monarcas cristãos do Reino de Aragão, Fernando II e Isabella I.
Hoje, a Aljaferia é formada pelo Palácio Islâmico (do século XI), o Palácio Cristão Medieval (do século XII), o Palácio dos Monarcas Católicos e os Tribunais de Aragão. Seus destaques são: o Pátio de Santa Isabella; a elaborada sala de oração octogonal e seu mihrab (um nicho semicircular na parede que indica a direção de Meca), decorado com padrões florais com inscrições do Alcorão; a Sala do Trono, com seu teto extraordinariamente rico; a Torre do Trovador que aparece na famosa ópera “Il Trovatore”, de Verdi, e que foi o local onde Cristóvão Colombo recebeu seu mandado de navegar para o Novo Mundo.
História do Palácio Aljafería
O Palácio Aljafería foi ordenado a ser
construído por Yafar Ahmad ibn Sulayman (al Muqtadir), o segundo monarca da
dinastia Banu Hud, que reinou entre 1046 e 1082. Do nome do monarca deriva o nome
do palácio, desde Yafar Al-Yafariyya veio Aliafaria e, finalmente, Aljafería,
embora originalmente fosse conhecido como "Palácio da Alegria". Foi construído
como uma vila de lazer para os reis de Taifas fora da cidade muçulmana.
A parte mais antiga do complexo monumental é
a Torre do Trovador, cuja construção remonta ao final do século IX, período em
que o primeiro Tuyibí governou, Muhammad Alanqar. A Torre do Trovador recebe o
nome do drama romântico El Trovador, de Antonio García Gutiérrez, uma vez que a
história se passa na torre da Aljafería.
No ano de 1118, Alfonso I, o Batallador, conquistou Zaragoza e, a
partir deste momento, a Aljafería tornou-se a residência dos monarcas cristãos.
Através dos séculos, os monarcas realizaram inúmeras obras de extensão e
condicionamento no edifício. Um dos períodos de construção mais frutíferos da
história do conjunto foi durante o reinado de Pedro IV, o Cerimonial, entre
1336 e 1387. No seu reinado, a Aljafería foi o principal núcleo político da
cidade e foram realizadas obras de grande importância, como o Palácio Mudéjar e
as capelas de San Martín e San Jorge.
Em 1486, o Tribunal do Santo Ofício da
Inquisição foi instalado em algumas das salas do palácio, no pátio e na igreja
de San Martín. É provável que, nesse momento, a Torre do Trovador tenha
começado a ser usada como prisão. Em 1706, a sede deste órgão foi transferida
para o núcleo urbano da cidade.
Os monarcas católicos começaram a construção
de seu suntuoso palácio, na ala norte do complexo islâmico, em 1488, criando um
segundo andar no palácio muçulmano. Eles, assim, mostraram sua supremacia sobre
Al-Andalus.
Em 1591, o ex-secretário de Felipe II foi
transferido da prisão da Justiça de Aragão para a da Inquisição, localizada no
palácio da Aljafería, agindo assim contra a Justiça e as jurisdições
aragonesas. Esse fato deu origem a uma revolta conhecida como as Alterações de Zaragoza. A fuga do
secretário e dos levantes resultou na execução de Juan Lanuza e outros nobres
relacionados à revolta. Entre 1592 e 1593, Felipe II levantou a necessidade de
fortalecer o local de Aljafería para evitar possíveis revoltas futuras. O todo
foi cercado por uma barreira de declive com bastiões pentagonais nos ângulos e
um grande fosso, que está preservado até hoje.
Desde o reinado de Fernando VI, o Palácio foi
usado como sede permanente de tropas e, no último terço do século XVIII, foram
construídos prisões para instalar tropas de artilharia, cavalaria e infantaria,
além de áreas de armazenamento e serviços auxiliares.
Em 1862, a Aljafería deixou de ser Patrimônio
Real e tornou-se propriedade do desaparecido Ministério da Guerra. Uma série de
projetos foi desenvolvida para sua transformação em quartel, causando danos aos restos históricos.
Além disso, a fachada principal foi reformada e quatro torres neogóticas, das
quais duas estão atualmente preservadas, foram colocadas nos cantos do então
conhecido quartel de Santa Isabel e Príncipe.
Após a constituição da Comissão de Monumentos
de Zaragoza, foi ordenada a transferência de alguns restos artísticos do
palácio muçulmano, como gesso, capitais e arcos, para o Museu de Zaragoza e o
Museu Arqueológico Nacional de Madri. Em 1931, o Palácio Aljafería foi
declarado Monumento Nacional de Interesse Artístico Histórico.
Ao longo do século passado, numerosos
trabalhos de restauração foram realizados no edifício. Em 1980, a Câmara
Municipal de Zaragoza adquiriu o castelo e as terras vizinhas dentro da
“operação de quartel” das Forças Armadas e comprometeu-se a restaurá-lo e criar
um parque público ao seu redor. Em 1983, foi decidido instalar-se o Parlamento
Autônomo Aragonês no Palácio Aljafería. O novo hemiciclo parlamentar foi
inaugurado em 1987. Entre 1993 e 1995, foram realizadas obras de extensão da
sede oficial dos tribunais de Aragão no setor noroeste da Aljafería. Em abril
de 1994, a transferência definitiva com total controle do edifício e dos
arredores do Palácio Aljafería em favor dos tribunais de Aragão foi aprovada
pela Câmara Municipal de Zaragoza.
Horário de Funcionamento:
De abril a outubro: diariamente, das 10 às 14h
e das 16:30 às 20h. Visitas guiadas às 10:30, às 11:30, às 12:30, às 16:30, às
17:30 e às 18:30h. De novembro a março: de segunda a sábado, das 10 às 14h e
das 16 às 18:30h. Aos domingos: das 10 às 14h Visitas guiadas às 10:30, 11:30,
12:30, 16:30 e 17:30h. Uma das melhores maneiras de conhecer a história e os
cantos da Aljafería é através de uma visita guiada, sem nenhum custo extra, que
pode ser reservarda quando da compra da entrada.
A visita guiada (dura cerca de uma hora)
Após comprarem-se as entradas e atravessar a ponte sobre o fosso, chega-se a um belo pátio com um arco de ferradura de um lado, arcos ogivais do outro, a entrada de um moderno prédio... É onde se aguarda o inicio da visita guiada. Pode-se passar o tempo na loja, onde há cartões postais, artesanato relacionado às imagens mais típicas do palácio e lembranças para os turistas.
Este palácio é certamente uma das grandes realizações da arte hispânica muçulmana e pode-se dizer que serviu de exemplo para construções posteriores, como os Alcazares Reais de Sevilha e a Alhambra de Granada.
Palácio Islâmico de Aljafería
Se recuarmos no tempo, no século IX,
encontramos as origens do Palácio Aljafería. Naquela época, a Torre do Trovador
foi construída, com um caráter defensivo, pois, como foi comprovada na
história, Zaragoza foi sede de muitas batalhas e conflitos. Cerca de 200 anos
depois, já na segunda metade do século XI, o monarca Banu Hud, da Taifa de Zaragoza,
mandou construir nos terrenos anexos à torre o que inicialmente seria a
residência de verão dos reis de la Taifa, um edifício que atualmente conserva
parte de seu recinto quadrangular fortificado primitivo e reforçado com grandes
torres ultra semicirculares.
No interior, o belo palácio, como a grande
maioria dos edifícios muçulmanos, tem uma delicada beleza ornamental e consiste
em um pátio retangular ao ar livre com um jardim, chamado Santa Isabel, uma
piscina no lado sul e duas varandas laterais com arcos exuberantes, e
ao mesmo tempo simples, que atuam como telas para uma série de salas internas
que serviam principalmente para realização de cerimônias ou atos privados da
realeza.
Pátio árabe, com suas laranjeiras e o som da água, que para os muçulmanos significa o paraíso a nossa espera.
Palácio do Trono de frente para o Pátio de Santa Isabel.
Afresco, que parece refletir um exército ou uma batalha, com cavalos e um pássaro quase oculto.
Depois de conhecer essa área, passa-se por uma
espécie de museu onde se retrata o material utilizado na Arte Mudéjar e onde se
pode imaginar como foram as paredes do palácio quando estas eram coloridas. Então,
por escadas ou elevador, chega-se ao...
Palácio Cristão Medieval
No ano de 1118, após a reconquista de Zaragoza
nas mãos do rei Alfonso I, o Battaller, o palácio passou as mãos cristãs e tornou-se
a residência habitual dos monarcas aragoneses. Esses, então, por mais de três
séculos, fizeram várias obras para expandi-lo, sendo que a mais notável foi realizada
sob o rei Pedro IV, no século XIV. No Palácio Mudéjar, destacam-se os quartos decorados por esplêndidas alfarjes, a
igreja de San Martín e a capela de San Jorge (que infelizmente desabou).
Durante a visita, entra-se em uma sala com uma grande mesa. No século XV, esse palácio foi a sede do Tribunal da Inquisição e nesta sala eram dadas as sentenças. A antiga Torre do Trovador, nesta época, era uma das prisões mais temidas.
Dessa parte do palácio, segue-se em direção a uma grande sala com tetos “caixotados”
e dali para a torre de Trovador com peças originais do século X e com grafites
nas paredes. Grafites? Sim, dos prisioneiros que ocuparam essa torre durante os
anos da Inquisição.Durante a visita, entra-se em uma sala com uma grande mesa. No século XV, esse palácio foi a sede do Tribunal da Inquisição e nesta sala eram dadas as sentenças. A antiga Torre do Trovador, nesta época, era uma das prisões mais temidas.
Sala baixa do Palácio Mudéjar.
O rei Pedro IV, o Cerimonial, transformou a Aljafería em uma fortaleza digna de um rei cristão medieval. Vocês sabiam que ele nasceu de sete meses? Por isso, para parecer mais alto, ele sempre usava um capacete com um enorme dragão como um símbolo de poder.
Poço que abastecia o palácio.
Teto da prisão na Torre do Trovador.
Paredes da prisão na Torre do Trovador.
A seguir, desce-se para o...
Palácio dos Monarcas Católicos
O terceiro palácio visitado na Aljafería é o
chamado Palácio dos Monarcas Católicos, onde Isabella e Fernando, por volta do
ano de 1492, tinham um andar construído no topo do palácio muçulmano. Conta-se
que assim era para se demonstrar que os cristãos estavam acima do legado deixado
pelos muçulmanos.
Este "novo" palácio consiste em uma
escada para subir até o segundo andar, uma galeria e vários salões ou salas
chamadas Lost Steps. De todo o
palácio, o destaque é, sem dúvida, a Sala do Trono, com seu espetacular teto
mudéjar em caixão de madeira dourada e policromada.
Grande parte do piso é novo, mas há uma área onde
se pode ver o original.
A seguir, visita-se o Salão dos Passos Perdidos,
onde a “plebe” fazia fila na esperança de ser recebida na Sala do Trono. Os símbolos
reais podem ser vistos no lindo teto: o jugo e as flechas (suas iniciais
correspondem às dos reis: "e" de Ysabel e "f" de Fernando). Há, também, referencia
ao ano de 1492, o ano em que Granada foi tomada. Mas, 1942, foi, ainda, o ano da
descoberta da América... Sobre isso , nada ... É claro. Naquela ocasião, os
reis não sabiam que um novo mundo havia sido descoberto, eles pensavam que
Colombo havia acabado de chegar às Índias.
Para encerrar a visita, entra-se no hemiciclo.
Devido a obras, não visitei os Tribunais de
Aragão onde 67 parlamentares (14 de Teruel, 18 de Huesca e 35 de Zaragoza)
debatem toda quinta e sexta-feira de manhã sobre as ações que afetam os quase
1,5 milhão de habitantes que habitam a comunidade de Aragão.
Endereço: Calle de los Diputados. Desde a Plaza del Pilar são cerca de vinte minutos à pé. Desde a estação, pode-se ir de táxi ou pegar-se o ônibus 501.
Além desse belo palácio, a rica cidade de Zaragoza apresenta outros exemplos de Arte Mudéjar, a arte realizada pelos artistas muçulmanos convertidos ao cristianismo, depois da expulsão dos árabes da Península Ibérica. São, também, eles considerados Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. Portanto, visitem, ainda, La Seo e a Torre de San Pablo... Conto tudo em próximos posts.


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