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sábado, 19 de setembro de 2020

Madri: como é o Tour de Las Ventas e a visita ao Museu Taurino


Ernest Hemingway definiu toda a encenação das touradas, que tanto adorava, como um quase primitivo encontro entre o homem e a besta, a fúria e o autocontrole. Verdade! E, direitos dos animais à parte, é difícil pensar em Espanha sem se lembrar deste tipo de espetáculo.

Em Madri, a temporada de touradas vai de março a outubro, sendo que as principais são realizadas durante a Feria de San Isidro, em maio. Já tive a oportunidade de assistir a uma tourada, e contei tudo neste post. Nessa última viagem, em Fevereiro, fui com minha mãe fazer o tour na Plaza de Toros de Las Ventas e conhecer o Museu Taurino da Comunidade de Madrid. Este é cheio de parafernálias relativas às touradas, com destaque para as gravuras de Goya e o traje de luces do célebre Manolete, morto durante uma tourada em 1947.

Las Ventas é um dos maiores templos mundiais da tauromaquia, só sendo superada pela Praça de Touros do México. Ela tem capacidade para receber quase 24.000 pessoas/espetáculo, e ao longo de 2019 seu Museu Taurino foi visitado por 119.298 turistas.




A Plaza de Toros de Las Ventas tem um estilo neo mudéjar típico da península ibérica, com seus tijolos vermelhos à vista. Linda, linda, ela conta com uma arena de 61 metros de diâmetro.






Um pouco de história:

A partir de 1913, a paixão pelos touros aumentou consideravelmente e a praça, construída em 1874, começou a ficar pequena para receber os espetáculos. Nesse momento, um mítico matador conhecido como “Joselito” propôs a construção de uma praça nova e maior, com ingressos mais baratos para que todo mundo tivesse a possibilidade de conferir as touradas. As obras começaram em 1922, e em 1931 foi inaugurada com o nome do terreno em que se encontrava, “Las Ventas del Espíritu Santo”. Seu primeiro arquiteto foi José Espeliú, que faleceu em 1922, passando o projeto para Manuel Muñoz Monasteria, um dos arquitetos que desenhou o Estádio Santiago Bernabéu.

Em 17 de junho de 1931, a primeira celebração foi realizada na praça de touros com a realização de uma tourada de caridade. O cartaz histórico foi formado por: Fortuna, Marcial Lalanda, Nicanor Villalta, Fausto Barajas, Luis Fuentes Bejarano, Vicente Barrera, Armillita Chico e Manuel Mejias Bienvenida. Embora a sua inauguração oficial tenha ocorrido em 21 de outubro de 34, a partir de 1931 ela começou a ser usada regularmente.








A visita pode ser feita com um guia ou, a qualquer hora, com a ajuda de um excelente audioguia (tem em português). Ao longo do percurso, vamos ouvindo a história de Las Ventas, entendo melhor a sua arquitetura e aprendendo tudo sobre touros e touradas.


As touradas, que significa literalmente "luta contra o touro", polêmicas ou não, é, sem dúvidas, um dos componentes mais populares da cultura espanhola. O touro, que é um animal nativo da Península Ibérica, protagoniza não só as touradas, mas também outras festas populares espanholas, como as corridas e os cortes de touros.

Puerta Grande de Las Ventas


Sobre os touros:

Os touros de lide são espécimes machos do animal que são criados especificamente para a participação em diferentes espetáculos taurinos. É uma raça autóctone da Península Ibérica que evoluiu até aos dias de hoje, desenvolvendo algumas características específicas, como: instinto de defesa, temperamento, tez e chifres.



O ancestral primitivo deste touro, o urus, foi, ao longo da historia, objeto de adoração de muitas civilizações. Na igreja grega de Creta e em textos bíblicos antigos, por exemplo, pode-se encontrar diferentes tipos de adoração ao touro e sacrifícios divinos. Na Espanha, os touros também desempenharam um papel proeminente nas cerimônias religiosas das tribos pré-históricas. Na verdade, as origens das praças de touros eram provavelmente templos celtiberos onde os sacrifícios eram realizados. Perto de Numancia, na província de Soria, um deles ainda sobrevive.

Mais tarde, a influência de gregos e romanos transformou esses cultos em espetáculos. Durante a Idade Média, uma das atividades favoritas da aristocracia era a tourada a cavalo. No século XVIII, essa tradição foi sendo abandonada e a população mais jovem inventou a tourada a pé. Francisco Romero foi uma figura chave na definição das regras desse novo “show”.

As touradas:

As touradas, que acontecem nas praças, começam com um paseo, no qual todos os agentes envolvidos saem para o picadeiro e, após solicitar a autorização para abrir a porteira, o primeiro touro entra em cena.

O ritual é o seguinte: cada tourada tem três toureiros que se encarregam de dois touros/cada. Três terços são celebrados com cada touro, separados uns dos outros pelo chamado de clarins. Durante o primeiro terço, o toureiro usa uma capa grande com um lado rosa e outro amarelo. Em seguida, os picadores montados no cavalo atacam o touro.

No segundo terço, três banderilleros pregam um par de bandeiras no touro. Na conclusão desta parte, chega-se ao terço final. Na chamada "sorte suprema", o toureiro usa a muleta, que é um pequeno pano vermelho pendurado em um mastro. Na última parte da tourada, o toureiro deve mostrar domínio sobre o touro, estabelecendo uma simbiose entre eles, antes de matá-lo.


Outro dos festivais de tourada populares é a corrida de touros. Consiste em correr na frente de um grupo de touros, ou novilhos, que são conduzidos por cabrestos. Os corredores tentam ficar o mais perto possível deles, mas sem realmente tocá-los. Uma das corridas de touros mais conhecidas é a de San Fermín, que se realiza em Pamplona em meados de julho.

Polêmica e legislação:

A maior consciência do sofrimento do touro e o avanço progressivo da luta pelos direitos dos animais mudaram as tradicionais touradas. Hoje, essas festividades são regulamentadas de forma diferente em cada comunidade autônoma.


As touradas são proibidas por lei nas Ilhas Canárias e na Catalunha, apesar desta ainda celebrar várias atividades tauromáquicas. Na Galiza e em grande parte das Ilhas Baleares, as touradas são legais, mas a sua prática é proibida em alguns locais. No resto do território espanhol, as touradas são totalmente legais e em Madrid, Las Castillas, Murcia e Navarra, ela é considerada um "Bem de Interesse Cultural" ou "Patrimônio Cultural Imaterial".

Agora, o tour segue para a arena central, pelo local onde é feito o desfile que precede a tourada, pelos tendidos altos (zonas superiores de assentos) e pelo pátio. Vamos conhecendo todos os meandros da praça.










Desde 2019, há uma sala iterativa na praça de touros. É possível, através de imagens e sons, lutar com touros , visitar a Fazenda Gavira de Cádiz, e até assistir a uma festa em Las Ventas.





Capela



Ao final do tour, vamos conhecer o Museu Taurino, localizado no Pátio de Caballos. Nele, que é a oitava atração turística mais visitada de Madri, aprendemos mais sobre a relevância da tauromaquia na história e na cultura espanhola.

O Museu Taurino, com 125 metros quadrados, é dividido em três grandes salas, duas delas dedicadas à história da praça de touros de Las Ventas com exposições sobre seus famosos touros e toureiros com suas belas (e originais) vestimentas. Por último, há uma sala dedicada exclusivamente à pintura tauromáquica e aos cartazes originais das obras que anunciaram as touradas Goyescan, sob a assinatura de Barceló, Arroyo, Úrculo, Pérez Villalta, Manuel Alcorlo e Alicia Ochoa.

Logo na entrada, vemos a coleção de retratos que remete-nos a diferentes períodos da história das touradas, desde Pedro Romero a José Miguel Arroyo "Joselito", passando pelos rostos de Joaquín Rodríguez "Costillares", José Delgado "Pepe Hillo", Francisco Montes "Paquiro" , Frascuelo ou Lagartijo. O retrato de José Gómez Ortega "Gallito", desenhado por Manuel Benedito, é um dos mais afortunados que dele resta; e uma das melhores obras do museu é o retrato que Daniel Vázquez Díaz fez de Juan Belmonte, em 1934. Do inesquecível Manuel Rodríguez "Manolete", este espaço guarda memórias notáveis, como o busto de bronze de Joaquín Roca Rey. Além disso, há a série completa da segunda edição das gravuras "La Tauromaquia" de Goya, gravadas a água-forte.

Mais a frente, nas vitrines há uma rica coleção de vestimentas de tourada, acessórios e capas, desde o século XIX até à atualidade. A vestimenta mais antiga da coleção é o colete José Rodríguez “Pepete”, justamente o que ele vestiu quando foi ferido pelo touro Jocinero de Miura. Há, ainda, o colete escarlate e dourado que Joselito vestiu na trágica tarde em Talavera de la Reina. O que mais impressiona o visitante é a roupa rosa claro e dourado que Manolete usava no dia em que morreu.

não se pode fotografar em seu interior

Outro destaque é a vestimenta de Juanita Cruz que foi a primeira toureira do país, tendo dado inicio, em 1974, a uma luta para que outras mulheres pudessem tourear pela Espanha. Há, também, o terno lilás e dourado com o qual “Antoñete”  saiu, aos 66 anos, pela Puerta Grande de Las Ventas.


Localização: Calle Alcalá, 237. Metrô: Ventas (linhas 2 e 5). Ônibus: linhas 12, 21, 38, 53, 74, 106, 110, 146 e 210.

Preço: adultos = €14,90/estudantes e aposentados = €11,90/crianças entre 5 e 12 anos = €5,90.

Horário da bilheteira: diariamente, das 10-14h e das 17-20h.

Visitas:

Inverno (outubro a maio): diariamente, das 10 às 18h. Verão (junho a setembro): diariamente, das 10 às 19h. Dias de corrida: as visitas terminam 3 horas antes do seu início.

Museu Taurino:

Fora de temporada: diariamente, das 10-18h. Temporada Taurina: diariamente, das 10-18h. Dias de corrida, das 10-16h.

Não percam...

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