A Série Lugares Secretos que Indico vai a Casa Amatller, em Barcelona
Oi!! Hoje, vamos visitar um tesouro em
Barcelona: a Casa Amatller. Ela não é um segredo, mas com tantas “casas” de Gaudí
para se conhecer, muitos deixam essa atração de fora.
Em pleno Quadrat d’O, no Passeig de Gràcia, a Casa Amatller é a
decana do pedaço e rivaliza em beleza com suas ilustres vizinhas: a Casa Lleó
Morera (criação de Domènech i Montaner) e a Casa Batlló (criação de Antoni
Gaudí).
História da casa
Antes de 1898, quando Antoni Amatller o
comprou, esse era um edifício convencional. Em 1900, o famoso industrial encomendou
uma extensa obra a Josep Puig i Cadafalch, um dos gênios do modernismo catalão.
Sua inspiração foi claramente neogótica, baseada, sobretudo, na vertente flamenga,
muito comum em Bruges e Bruxelas. Esse não foi um traço raro na obra de Puig i
Cadafalchr. Ele fazia parte do movimento conhecido como Renaixença, que usava o
nome da renascença do Século XVI para fortalecer a identidade catalã. Eles
acreditavam que era preciso recuperar o passado glorioso da cidade, através de
uma arquitetura moderna. O estilo neogótico servia para restaurar o esplendor medieval
de Barcelona, época que essa foi a grande potência do mediterrâneo.
Puig i Cadafalchr não foi apenas um gênio da
arquitetura, ele foi um erudito que se dedicou ao urbanismo, às artes, à
arqueologia e a um amplo estudo da História da Catalunha. Hoje, suas obras
embelezam Barcelona, como é o caso da Casa Macaya ou da Casa Terradas (esta
última popularmente conhecida como “Casa dos Picos” devido aos espigões cônicos que adornam a sua fachada).
Atualmente, o prédio da Casa Amatller abriga
a sede da Fundació Casa Amatller (a responsável pela sua administração) e o
Instituto Amatller de Arte Hispânica.
Quem foi Antoni Amatller?
O industrial Antoni Amatller (1851-1910)
herdou a empresa familiar Chocolate Amatller S.A. do pai e do tio. Ele soube aproveitar
tudo o que havia aprendido visitando as principais indústrias de chocolate da
Europa, construindo uma fábrica nova e moderna no bairro de Sant Martí de
Provençals e aplicando técnicas inovadoras de marketing. Imagine que as
embalagens dos seus chocolates eram ilustradas por ninguém mais que Alfons
Mucha. Isso porque Amatller adorava o espírito da Belle Époque, época em que o
progresso tecnológico e o avanço industrial geraram grande otimismo.
Ele era um grande fã de fotografia; um ávido
colecionador de antiguidades, sobretudo de “vidrinhos” das civilizações
medievais; das artes e da América, lugar de origem do cacau.
Nesta casa, ele viveu apenas com sua filha,
Teresa, já que sua esposa o abandonou e se mudou para a Itália para viver com
um cantor de ópera.
Após sua morte, Teresa assumiu a fábrica de
chocolates e continuou a residir na Casa Amatller até morrer. Como ela morreu
sem deixar filhos, toda sua herança ficou a cargo da fundação que leva seu
sobrenome.
Para entender, e desfrutar, da visita a casa,
é necessário “captar” essas informações. Dúvida? Sente-se no banco em frente à
casa e admire a sua fachada. Assim, verá na bela arquitetura traços da
personalidade do seu dono e do arquiteto contratado. Um “belezura” que se
repete no interior.
A fachada foge da simetria em todos, e cada um, de seus andares. Concentre-se primeiro no topo escalonado sob o qual o estúdio de fotografia de Antoni estava escondido. Em seguida, admire a excelente combinação de cores do sgraffito, os azulejos coloridos, os elementos da forja e as esculturas que contam uma história.
Na obra dessa mansão, Josep Puig i Cadafalch
contou não apenas com o seu próprio talento, mas também com a colaboração de
alguns dos melhores artistas catalães do seu tempo.
O resultado foi um edifício artisticamente poderoso do primeiro ao último detalhe. Repare nas alusões ao nome da família (galhos de amendoeiras, pois é isso que significa "ametller" em catalão); referências à tradição catalã, como a lenda de Sant Jordi, o dragão e a princesa; ou os passatempos de Antoni Amatller (pintura, escultura, arquitetura, música e fotografia).
Vamos a visita...
Depois de atravessar o limiar do que antes era a
entrada da garagem do Hispano-Suiza de Antoni Amatller, nos encontramos em um
saguão imponente (aberto a todos os “curiosos”). Cerâmica sevilhana sobe pelas paredes, as lanternas são decoradas com dragões e ao fundo uma porta de vidro
com cristais coloridos dá acesso a cafeteria/chocolateria.
Antes do filme, podemos admirar a escada que
leva ao segundo andar. No teto, uma espetacular claraboia de vidro colorido filtra
levemente a luz. Na porta da residência do Amatller, há um casal vestido da
maneira tradicional catalã, cercado por músicos. Após atravessá-la, temos
acesso a um salão com piso em mosaico no estilo romano de Mario Maragliano. O local
se destaca pelos tons de terra e pelo ar medievalista, com várias referências
ao comércio de chocolate da família Amatller.
Dentro da casa, o estilo neogótico e os elementos do modernismo imperam. Os corredores, o chão, o teto e as janelas são ricamente adornados com madeiras trabalhadas, vitrais coloridos, esculturas e mosaicos.
A próxima parada é no Salão de Jantar. Ele é
presidido por uma lareira com um grupo escultural de Eusebi Arnau que se refere
à América, a origem do cacau. Nela vê-se uma princesa indígena e várias
referências à raiz da fortuna dos Amatller. Em frente à lareira, a mesa da
família original é preservada, juntamente com vários outros móveis. E a sala é
iluminada pela luz que entra pela linda janela de flores amarelas.
O lustre chama a atenção pelo lindo trabalho em ferro e pelos vitrais. Materiais típicos do modernismo.
Essa é a única casa, que se pode visitar, em
cujo interior se pode ver a mobília original.
A próxima visita é à "sala de música",
assim chamada porque seu friso contém versos de "La cançó del
mariner" e a versão original de "Els segadors". O piano que um
dia estava no canto não pode ser preservado.
Ao lado, encontra-se a área que se comunicava
com a cozinha. Adiante, há uma pia de mármore impressionante, localizada logo
atrás da lareira e usando o calor do fogo para aquecer a água.
Os
dois quartos da Casa Amatller estão localizados na parte com vista para
o Passeig de Gràcia. Vale a pena notar que, ao contrário do resto das casas
modernistas, não havia casamento aqui. Antoni Amatller se separou de sua esposa
em 1877.
Sala
de costura de Teresa Amatller.
No quarto de Teresa, uma sinfonia em tons de amarelo, há flores de amêndoa presentes de uma maneira ou de outra na decoração. Trata-se de um cômodo que transita em duas épocas distintas, principio do século XX e anos 1950. Como ela nunca se casou, morou toda sua vida nesta casa, de onde só saiu durante a Guerra Civil Espanhola. Além da linda varanda com uma coluna de mármore rosa decorada com vários relevos que representam a idade da mulher, há uma cama charmosa, e histórica, e um belo espelho camuflado na parede, como se fosse um armário.
Durante o tempo que morou na casa, Teresa deixou
tudo como estava sem tocar em praticamente em nada.
Muito aqui não é original, mas é bem curioso o fato de Teresa Amatller ter reformado seu camarim em estilo Art Deco, anos depois.
Na parte central desta área do piso principal da
Casa Amatller, encontra-se um amplo, e iluminado (três janelões dão para o Passeig de Gràcia), salão onde está exposta a coleção particular de vidros
arqueológicos que o industrial coletou ao longo de sua vida e suas viagens ao
redor do mundo.
Uma vasta coleção de garrafinhas, copos e taças de vidro.
O próximo cômodo é o quarto do senhor Antoni
Amatller. Se o quarto da filha é brilhante e orgânico, esse, em vermelho,
parece retirado de um castelo medieval. Sua cama é digna de um rei, as cadeiras
parecem tronos, e o armário parece ter viajado na capsula do tempo.
Sóbrio, nos faz pensar nos senhores feudais.
Banheiro
do dono da casa. Só a luminária é original. E, há a suspeita de que havia uma
banheira.
O
melhor espaço no andar principal da Casa Amatller foi reservado por Antoni para
ser seu escritório. Em uma localização privilegiada e separada dos corredores
por aquelas telas de vidro com chumbo, tão características do trabalho de Puig
i Cadafalch. Achei curioso que há uma passagem que levava as pessoas da escada
de acesso direto para o escritório sem que as pessoas “passassem” pela casa
propriamente dita.
Não
é um cinzeiro, era para se colocar a tinta das canetas.
Lustre elétrico...Um avanço para a época.
O
passeio pela Casa Amatller termina no andar térreo. Era lá que ficava a
cozinha. A comida subia até o apartamento principal por um elevador. Já, os
empregados usavam a escada de serviço (muito mais austera do que o resto do
conjunto) cuja saída era do ladinho do escritório do senhor Amatller. Assim,
ele podia controlar a eficiência do serviço. O elevador ainda está lá. Hoje, a “velha”
cozinha é um café/restaurante e acho curioso como mesas e turistas coexistem
com os móveis originais da cozinha do Amatller.
Café Faborit Casa Amantller
As visitas à
Casa Amatller terminam com uma pequena degustação do chocolate da marca da casa
com uma torrada de pão macio. Todo um prazer para o paladar que ainda é
elaborado com a receita original de mais de um século atrás. Na loja, há muito
chocolate para se escolher, de barras às castanhas cobertas de
chocolate ou caixinhas fofas de bombons. Não resista, adquira uma
das lindas barras com desenhos modernistas!! Delicia!!
A Casa-Museu Amattler oferece várias
modalidades de visita guiada. Em catalão e castelhano, existem as opções abaixo:
- Visita Geral - A visita mais completa, com a duração de cerca de uma hora.
- Visita Teatralizada - Com atores, esta reconstituição da história do edifício é a opção mais divertida para conhecer a Casa Amattler.
- Visita combinada – Visita a Casa Amattler + o Palácio do Barão de Quadras.
Em outras
línguas, estão disponíveis:
- Visita expressa
- Visita expresso + taça de chocolate quente
Os ingressos variam entre 12€ e 24€. Não é necessária a compra de
ingressos prévia, mas é aconselhável.
Endereço: Passeig de Gràcia, 41, Barcelona.
Aberta, diariamente, das 10-18 horas.
Fica a dica!
Bom domingo!!

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