Bom
dia,
História
Após a devastação da Primeira Guerra Mundial,
os britânicos sempre temeram os estragos de uma nova guerra. Na verdade, os estrategistas
militares acreditavam que pudessem ocorrer até 200.000 baixas em apenas uma semana, no
caso de bombardeios em uma guerra futura. Assim, já na década de 1920, começaram
a traçar planos de evacuação de Londres do primeiro-ministro, seu Gabinete
de Guerra e dos funcionários essenciais. Todavia, tais planos geraram controvérsias,
pois muitos achavam que os londrinos pudessem se sentir abandonados se o
primeiro-ministro e o governo estivessem em um lugar seguro. Somando-se a isso
as questões relacionadas à velocidade da evacuação, os estrategistas decidiram buscar
um lugar para se criar um abrigo de emergência no centro de Londres.
Em junho de 1938, quando a ameaça de uma nova guerra parecia
real, o prédio dos Novos Escritórios Públicos (que, atualmente, abriga o Tesouro Britânico), na King Charles Street, foi
selecionado para tal fim. Ele ficava perto do Parlamento e tinha uma forte estrutura de aço
e um grande porão. Esse espaço foi, então, preparado com a instalação de comunicações e
equipamentos de transmissão, paredes à prova de som, ventilação específica e
reforço na estrutura para evitar-se que o local fosse destruído por ataques
aéreos inimigos.
Um “avental”
de concreto foi colocado em 1940 para evitar-se possíveis danos de uma explosão nas Salas do Gabinete de Guerra. |
Em
26 de setembro de 1940, uma bomba caiu perto de Clive Steps, no extremo oeste da King Charles Street, próximo às Salas do Gabinete de Guerra. |
10 Downing Street hoje |
Naquele porão apertado e sem janelas, a cerca de três metros abaixo do solo, adaptaram-se as Salas do Gabinete de Guerra, que se tornaram operacionais em 27 de agosto de 1939. Em 1º de setembro, a Polônia foi invadida pelos alemães. No dia 03, a Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha. Enquanto Neville Chamberlain foi o primeiro-ministro, o gabinete se reuniu ali apenas uma vez.
Em uma noite de maio de 1940, pouco depois de se tornar
primeiro-ministro, Churchill visitou o local e declarou: "Esta é a sala da
qual eu dirigirei a Guerra". Foi o que de fato ocorreu, o local funcionou
24 horas por dia, sete dias por semana, e nele foram realizadas mais de cem
reuniões entre maio de 1940 e maio de 1945. Em 16 de agosto de 1945, após a
guerra ter chegado ao fim com a rendição japonesa, as Salas de Guerra de Churchill
foram abandonadas.
Após a guerra, seu valor histórico foi reconhecido, pelo que passou a ser responsabilidade do governo de Londres. Por volta de 1980, poucas pessoas conseguiam acessá-lo. Por ideia de Margaret Thatcher, em 1984, 45 anos após seus primeiros dias de operação, os Cabinets War Rooms se tornaram um museu. Em 2005, depois de uma grande reforma, abriu-se uma nova área no complexo, o Churchill Museum, como parte da homenagem feita em memória de Sir Winston Leonard Spencer-Churchill - ou do "British Bulldog", forma como os russos chamavam o líder britânico. Assim, o museu passou a se chamar Churchill Museum and Cabinet War Rooms.
A visita:
Ao chegar, descemos as escadas e encontramos
a recepção onde se compram os ingressos. A seguir, com o audioguia em mãos (tem
em português), percorremos os Cabinet War
Rooms. Vamos vendo os vários cômodos do complexo: as salas de reunião; as salas
para operações específicas; os departamentos administrativos; a cozinha; os quartos
privados para oficiais, ministros e estrategistas militares; entre outros “Lugares
Secretos”. Do audioguia sai uma voz que vai nos relatando fatos históricos, as
funções de cada pessoa e o dia-a-dia daqueles que passaram anos trabalhando no seu interior. Ademais, podemos ouvir as conversas secretas que mudaram o curso da História.
A primeira sala que visitamos é também uma
das principais: A Sala de Reunião do Gabinete de Guerra, onde Churchill e seus
principais ministros se reuniam com os Chefes de Estado Maior para tomarem grandes decisões.
Nela, as mesas foram colocadas de maneira que
os Chefes do Exército, da Marinha e da Força Aérea se sentassem frente a
frente, o que criava certa tensão. No centro, diante do mapa-múndi, Churchill sentava-se
em uma grande cadeira de madeira redonda. Ao lado, havia um balde onde ele
depositava as pontas de seus onipresentes charutos.
A sala, cujas paredes eram de tijolo amarelo
com o teto entrecruzado por vigas vermelhas (para reforço e ventilação), se
mantem organizada como estava durante a reunião do Gabinete de Guerra realizada
às 17 horas de 15 de outubro de 1940. Todos os relógios marcam esse horário.
Acima da porta à esquerda há duas pequenas
lâmpadas elétricas pintadas de vermelho e verde. Elas serviam para informar se
um ataque aéreo estava, ou não, em andamento.
Continuando
o tour, logo surgem cartazes, alarmes e placas nas paredes. Depois, vêm os
depoimentos de pessoas que trabalhavam no local. As telefonistas, por exemplo,
eram garotas jovens que não podiam revelar para ninguém que trabalhavam no
lugar onde eram tomadas as decisões cruciais da Inglaterra durante a Segunda
Guerra. Elas nos contam, nos diversos depoimentos que saem do audioguia, como
era conviver com esse segredo – e com a fumaça dos cigarros, pois todo mundo
ali fumava, e o ambiente não era bem ventilado.
Por todo o caminho, passamos por cartazes com
frases e explicações sobre aquele período e para qual propósito servia cada uma
das salas.
As
telefonistas e digitadoras da Sala 60 eram todas mulheres civis. Durante as
Blitz, muitos delas tiveram que permanecer no subsolo dia e noite, dormindo
entre os turnos no subsolo abaixo das Salas de Guerra, conhecido como “cais”.
Havia poucos banheiros reais dentro do
bunker. Isso porque era necessário o mínimo possível de ameaças e riscos de
acidentes.
Essa placa noticiava aos que trabalhavam no subsolo como estava o tempo lá fora. Durante os ataques aéreos, como uma espécie de piada, o indicador era alterado para “windy''.
Sala da Chamada Transatlântica. Uma sala, disfarçada de banheiro particular, era o local de onde Churchill mantinha contado por radiotelefonia com o então presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt. Nela, havia um sistema de codificação de dados que captava as palavras de Churchill, as embaralhavam, e tais mensagens criptografadas eram enviadas para uma unidade maior que ficava escondida embaixo da Selfridges, na Oxford Circus. Nos Estados Unidos, um sistema idêntico, desenvolvido pela Bell Telephone Laboratories, em 1943, decodificava as mensagens.
Escritório-quarto de Brendan Bracken, Ministro
da Informação de Churchill.
As salas são expostas ao público através de um vidro transparente em frente aos itens muito bem preservados da época.
Quarto no qual Clementine nunca dormiu, mas que chegou a ser ocupado pela filha do casal.
É incrível caminhar por essas salas, onde se que reuniam as altas esferas militares e políticas britânicas, e imaginar a camaradagem entre eles e o medo dos ataques.
Sala de transmissão da BBC. |
As salas das datilógrafas, onde continuam conservadas as máquinas de escrever Remington Noiseless. Com uma inteligência incrível e hábitos peculiares, não era fácil de lidar com Churchill. Por exemplo: ele odiava qualquer coisa que tirasse sua concentração, isso incluía assobios e cliques de uma máquina de escrever comum. Por isso, as datilógrafas usavam essas máquinas de escrever especiais, importadas dos EUA, para não incomodá-lo.
Diz-se que o horário de trabalho de Churchill durante a guerra era de 06 da manhã às 03 da manhã do dia seguinte!
Em dezembro de 1940, foi instalada, acima das
salas do complexo, uma laje de concreto armado de até três metros de espessura.
Apesar disso, o lugar não era tão seguro assim. Uma bomba com mais de 227 kg
poderia ter penetrado o prédio. Portanto, para protegê-lo, as autoridades
investiram pesado no sigilo e havia um sem-número de regras e níveis de códigos
de segurança, sobretudo na Sala de Mapas e de Comunicações.
O centro de informações militares do complexo ficava baseado na Sala do Mapa, que funcionava 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Essa sala permanece intacta, da maneira como estava quando o Japão se rendeu, em 1945. Ao fundo, no mapa, é possível se ver os furos deixados pelos alfinetes coloridos que apontavam os navios em dadas posições, por aonde eles iam passando. Cada alfinete que saía significava um navio afundado e uma baixa de 300 homens.
Muitas informações chegavam por esses telefones de diferentes cores. Cada cor significava um tipo diverso de informação e informante. Os telefones brancos eram conectados com as Salas de Guerra das três forças armadas, os verdes eram conectados aos Serviços de Inteligência, os pretos faziam/recebiam ligações externas.
O coração das operações dos Aliados. |
Esse grande mapa, agora em exibição no Anexo da Sala do Mapa, passou grande parte da guerra pendurado na Sala do Mapa. Nele estão traçados em grandes detalhes o avanço devastador das forças alemãs na Rússia em 1941-1942 e sua retirada gradual nos anos seguintes.
Todas as operações eram meticulosamente monitoradas com lãs coloridas que marcavam o avanço alemão e os contra-ataques soviéticos. Também aqui se observava o destino de cada comboio, uma série de alfinetes coloridos apontavam cada o progresso, ou não, de frotas que traziam homens e materiais do Canadá e dos Estados Unidos.
Efeitos sonoros adicionam um toque de realismo estridente às salas, com sirenes de ataques aéreos e o estrondo de bombas explodindo ao fundo. O clima aqui era tenso!!
O último quarto deste tour é uma das principais atrações do local: o quarto onde o primeiro-ministro Winston Churchill chegou a dormir três noites, além de várias sestas. Muitas vezes, ele tomava decisões e fazia reuniões ali, deitado e de pijama.
Como
se pode ver, ele não era luxuoso, mas era um pouco maior do que os demais
quartos do complexo. Ademais, era o único com direito a carpete. Anotações e
mapas nas paredes mostram que Churchill não parava de pensar em estratégias de
guerra por um minuto sequer!
Essa
escrivaninha é original, e continua no mesmo local. Já, o charuto que está à
vista é verdadeiro. A cadeira tem seu braço direito marcado pelos arranhões que
Winston fazia durante os momentos de tensão.
Churchill
fez quatro discursos nesse quarto, como o de 04 de junho de 1940.
Churchill Museum
Com uma
área de 850 m², o Churchill Museum é
um premiado museu interativo dedicado aos 90 anos de vida e ao legado de Sir
Winston Churchill (1874-1965). Sua visita é feita logo no inicio do tour pelas War Rooms. Para o post ficar mais didático,
vou falar dele agora.
A
exposição é bastante interessante com objetos pessoais, artefatos originais da
época, retratos, vídeos, documentos, vestuário, presentes e áudios dos discursos
estimulantes de Churchill durante a guerra. Há informações sobre sua esposa
Clementine, as centenas de cartas devotadas que Churchill trocou com ela, uma área
dedicada aos seus passatempos como pintura e literatura. Há, ainda, referências a sua
infância solitária, a sua carreira militar e até mesmo a um surpreendente Prêmio
Nobel de Literatura ganho por ele, sem contar a cidadania americana recebida em
caráter honorário.
Podemos
ver uma nova exposição que explora a relação complexa de Churchill com o
Oriente Médio, explorar os legados de seus dois períodos como primeiro-ministro
(1940-1945 e 1951-1955), até chegar à sua morte. O célebre estadista recebeu
honras reservadas somente à realeza, com um funeral oferecido na Catedral
de St. Paul, uma das mais importantes do Reino Unido.
A
exposição não segue espacialmente uma ordem cronológica, mas ela é dividida,
confusamente, em cinco capítulos:
- Capítulo 1: 1940-1945 – Líder da Guerra
- Capítulo 2: 1945-1965 – O Estadista na Guerra Fria
- Capítulo 3: 1874-1900 – O Jovem Churchill
- Capítulo 4: 1900-1929 – Política Maverick
- Capítulo 5: 1929-1939 – Os Piores Anos
No
centro da exposição fica a “Churchill's Lifeline”, uma mesa interativa de 15
metros de comprimento que narra os principais eventos mundiais e as atividades
de Churchill ao longo dos anos. Ela reúne milhares de documentos, imagens,
animações e filmes relacionados ao seu famoso reinado político.
Um
item intrigante da exposição é essa porta de madeira (original) do número 10 da
Downing Street, residência oficial dos primeiros-ministros britânicos. Ela estava
pendurada direitinha nas dobradiças quando Churchill ocupou aquele endereço. Todavia,
foi removida e substituída por uma porta de aço à prova de bombas no auge da
campanha terrorista do IRA (Exército Republicano Irlandês). Ela
foi achada, por acaso, entre pilhas de lixo.
Curiosidades sobre o Churchill Museum and Cabinet War
Rooms:
2. Em
Junho de 2019, Donald Trump e família visitaram oficialmente esse local.
Endereço: Clive Steps, King Charles St.
Como
chegar: pegue o metrô e desça na estação Westminster (Jubilee Line, District
Line ou Circle Line) ou na St James’s Park (District Line ou Circle Line). Ambas
ficam a uma caminhada de menos de 10 minutos do museu.
Horário
de funcionamento: diariamente, das 9:30 às 18 horas.
Os ingressos, sem desconto,
custam £22. No verão, aconselha-se a compra previamente pela internet.
No próximo post, mais um lugar relacionado a vida de Churchill...
Nenhum comentário:
Postar um comentário