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domingo, 22 de novembro de 2020

A Série Lugares Secretas que Indico apresenta as Tapeçarias da Rainha (Gobelins) no Palácio de Christiansborg, em Copenhague



As tapeçarias que lhes apresentarei hoje foram um presente dos industriais e empresários dinamarqueses para Sua Majestade a Rainha Margarida II, da Dinamarca, em seu aniversário de 50 anos, em 1990. Todavia, se passaram 12 anos antes que elas fossem tecidas e penduradas em seu lugar atual, no Grande Hall do Palácio de Christiansborg. As tapeçarias contam a história da Dinamarca desde a Era Viking até o presente, com um olhar para o futuro.

Consideradas a maior obra de arte monumental produzida na Dinamarca nos últimos 100 anos, o Lugar Secreto de hoje é imperdível!!


A ficha técnica:

  • Onze tapeçarias são de Le Mobilier National et les Manufactures Nationales de Gobelins e de Beauvais, em Paris - comumente chamadas de les Gobelins.
  • O projeto foi financiado por uma série de empresas e fundações dinamarquesas, bem como pelo Estado francês.
  • O escultor Bjørn Nørgaard pintou seus esboços em tamanho real - conhecidos como desenhos animados - sobre os quais as tapeçarias foram tecidas.
  • Os esboços de Bjørn Nørgaard para as Tapeçarias da Rainha estão expostos no KØS Museum of Art in Public Spaces, Køge, Dinamarca.
  • Materiais - Lã, seda.
  • Localização - Palácio de Christiansborg, Copenhague, Dinamarca
  • Comissionado para Sua Majestade a Rainha Margarida II.
  • Colaboradores - La Manufacture de Beauvais.



O Palácio de Christiansborg é uma das maiores atrações de Copenhague. Luxuoso, elegante, mas ao mesmo tempo sem opulência, eu que adoro o estilo escandinavo não poderia deixar de visitá-lo. Adorei, mas o que de fato me marcou foi essa obra de arte. E, olha que nem sabia que ela existia.

Me acompanhem...

Dezessete tapeçarias gigantes preenchem as paredes do Grande Salão do antigo Castelo Real da Dinamarca, em Christiansborg. Elas retratam de forma desconcertante a história, o presente e o futuro da Dinamarca.

Grandes tapeçarias de parede, Gobelins, sempre foram usadas nas casas dos ricaços, tanto para o isolamento, como para a decoração.


Essa série de Gobelins reconta a história da Dinamarca, e do mundo, desde a Idade Viking, passando pelas Idade Média, Monarquia Absoluta, Reforma, Segunda Guerra Mundial, chegando ao Presente e até ao Futuro.


Bjørn Nørgaard estudou, nos anos 60, na Escola de Arte Experimental de Copenhagen e, influenciado por Joseph Beuys, criou trabalhos de arte comunais que expressavam seus valores esquerdistas. Dentre os mais conhecidos, e sensacionalista, está a Female Christ (1969), onde sua esposa, Lena Adler Petersen, caminhou nua pela Bolsa de Valores de Copenhague e depois ele abateu um cavalo, o desmembrou e distribuiu suas partes em potes de geleia. Pois é... Essa obra provocou discussões na mídia sobre a Guerra do Vietnã e a fome em Biafra. Hoje, ele é professor da Academia Dinamarquesa de Belas Artes.

Era Viking, 1991–97

Depois da realização dessa obra, à primeira vista, o caminho de Nørgaard parece ter migrado de um jovem artista esquerdista envolvido em atuações políticas a um mero servo, de meia-idade, da monarquia. Olhando mais de perto, percebe-se que ele continuou seu trabalho ideológico em um novo contexto institucional. Sua atitude artística de questionar e abrir significados mudou para outro nível de diálogo, ele decidiu focar na realeza. Mas, a Rainha Margarida II, que também é pintora, de forma magnânima, em nenhum momento restringiu a expressão artística de Nørgaard. Na verdade, apenas uma vez, as posições políticos/ideológicas de Nørgaard foram questionadas pela rainha. Foi quando, ela, diante do esboço da tapeçaria do século XIX, Primeiros Glücksburgers, procurou saber por que Karl Marx tinha tinha uma posição de destaque. Nørgaard explicou o porquê e a discussão acabou. Pois é...



Conforme se entra no Salão, uma grande história se apresenta... O tempo se move não cronologicamente. Começa na Era Viking que funciona como a imagem inicial da série. A Árvore do Mundo Yggdrasil ergue-se no meio da tapeçaria, com um pequeno Cristo crucificado pendurado em seus galhos.



A história, a partir de Yggdrasil, flui no tempo com uma enorme avalanche de imagens, refletindo a arte e o mundo de cada época. O tempo histórico é marcado pelo continuum de reis dinamarqueses, mas se ramifica em uma quantidade aparentemente infinita de eventos históricos, personagens, citações de obras de arte, símbolos e histórias.

  
Pode-se vagar por dias a fim no Grande Salão em busca de novos detalhes e lendo-se as imagens com a ajuda das anotações fornecidas.


Idade Média Precoce, 1990-93
Bispo Absalon, fundador de Copenhague


A bandeira da Dinamarca cai do céu
O rei Canuto o Santo é morto
Idade Media Tardia, 1990-95
Margarida I unindo a Escandinávia
Regras Aristocráticas, 1990-98

A relação da Coroa com essa obra a torna excepcional em muitos aspectos. Empresas como Danske Bank, Siemens e Volvo combinaram suas forças com fundações sem fins lucrativos e compraram esse presente de aniversário no valor de milhões. Assim, esse grupo de investidores possibilitou a elevação do artesanato tradicional e o poder da elite à arte modernista.



As tapeçarias foram tecidas por uma fábrica francesa, em atividade desde o século XVII, chamada Manufacture des Gobelins, onde se originou o termo Gobelim. A fábrica começou como uma empresa familiar, mas continua agora como uma empresa estatal. A tecelagem dos Gobelins foi feita fio por fio por 30 tecelões, o que demorou dez anos, resultando na sua exposição já quando das comemorações dos 60 anos da rainha, em 2000.


Inicio da Monarquia Absolutista, 1992-98
Monarquia Absolutista Tardia, 1994-99



Nørgaard explica por que a tecelagem foi usada em vez da pintura: “A vantagem das tapeçarias neste tipo de sala é a habilidade manual. Dá às imagens o mesmo tipo de gravidade e tempo que o próprio salão irradia.” Foi exatamente por esse motivo, para tornar a obra monumental, que Nørgaard levou tanto tempo para produzi-la. Ou seja, o fato de ela ter sido tecida ao longo de dez anos é parte integrante e é o que a torna tão performática.



Nørgaard define um monumento como uma obra de arte que cresce além de seus próprios limites e, portanto, forma um todo com seus arredores.



Os milhões de fios tecidos à mão, centenas de milhares de horas de trabalho, centenas de pessoas e vários anos construíram, per si, uma dramaturgia real que é uma parte inseparável da peça. Aliado à estrutura de produção e às metáforas dissonantes do imaginário, Nørgaard criou uma obra de arte fascinante que não se esvaziará em imaginário nem em instituição, embora seja difícil encontrar um conjunto de imagens mais institucionalizado que essas.


A Batalha de Copenhague, 1801
Primeiros Glücksburgers, 1993-97
A derrota da Dinamarca para a Prússia, 1864
Christian IX, o sogro dos europeus

A história dinamarquesa se mistura cada vez mais com os eventos do resto do mundo à medida que nos aproximamos do presente, trazendo figuras como: Rousseau, Nietzsche, Darwin, Chaplin, Mao, Einstein, Bunuel e até o Pato Donald. Algumas mulheres também brilham entre as presenças masculinas, tais como as escritoras Karen Blixen e Virginia Woolf, a política Nina Bang e a sufragista Christabel Pankhurst.

Rei Christian X
Pato Donald é publicado na Dinamarca



Ao chegar ao Presente, uma árvore volta ao centro da imagem e a rainha e seu príncipe aparecem sob ela como Eva e Adão, ainda que não vestidos como eles. O pagão Yggdrasil foi substituído pelo paraíso cristão e, em vez do cavalo sacrificado, há bassês aos pés do casal real.


No Gobelim do presente, a rainha governante Margarida II oferece, no meio do Paraíso, uma maçã a seu marido, o príncipe Henrik.



Na imagem do futuro, o príncipe herdeiro Frederik e seu irmão Joakim se dissipam misticamente em uma teia de símbolos tecnológicos e científicos, circundados por um halo no estilo da arte cristã da Idade Média. Ambas as imagens, O Presente e o Futuro, são refletidas em três tapeçarias mais finas, colocadas entre as janelas. A última delas é a imagem final de toda a série e retorna às imagens mitológicas da Era Viking e à geometria cósmica, sombreando a cruz e a coroa.




Sensacional, não? Quem desejar saber mais deve assistir a esse documentário.

O Grande Hall fica nas Salas de Recepção Real que abrem diariamente das 10 às 17 horas.

Durante a visita use esse APP que detalha as Tapeçarias da Rainha.

Abraços!!

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