No post
passado, falei sobre a História dos judeus de Varsóvia, assim como sobre o
Levante do Gueto de Varsóvia. Inspirados nos corajosos homens do gueto, em 01
de agosto de 1944, aconteceu outra revolta na cidade, o Levante de Varsóvia. E,
esse será o tema desse post.
A História do Levante de Varsóvia (01 de agosto de 1944 – 02 de outubro de 1944)
Em agosto de 1944, a população judaica de
Varsóvia já havia sido quase totalmente dizimada.
Foi então que, inspirados pela aproximação
das tropas soviéticas, os resistentes poloneses do Armia Krajowa – AK (Exército
Nacional Secreto) resolveram, com apoio do Governo Polonês que estava exilado
em Londres, levantar-se, ainda que com poucas armas (a maioria improvisada), contra
os ocupantes alemães para tentar liberar Varsóvia.
Assim, às 17 horas, a Hora W, do dia 01 de
agosto de 1944, a “Operação Tempestade” deu início à luta ingrata entre
soldados alemães e vários civis (entre eles, muitas mulheres e crianças).
O objetivo do Levante de Varsóvia (Powstanie
Warszawskie) era tomar o controle da cidade dos Nazistas para conquistar seu
direito de soberania quando da chegada do Exército Soviético. A expectativa era
que em breve as tropas russas chegariam para ajudar na liberação da Polônia.
Só que não foi isso que ocorreu. Quando
faltavam apenas 10 quilômetros para entrar em Varsóvia, por ordens de Stalin, o
Exército Soviético parou e ficou assistindo as batalhas de longe. Sem a sua ajuda
a chance dos insurgentes tornou-se nula. Os poloneses até chegaram a retomar
várias áreas importantes da cidade e tiveram algumas vitórias, mas o resultado
final foi uma catástrofe que terminou com a rendição no dia 02 de outubro de
1944. Foram 63 dias de intensa batalha.
Mas, porque o Exército Vermelho retardou a “liberação”
de Varsóvia? Simples, é traição que se chama. Eles deixaram que o os Nazistas
fizessem o “trabalho sujo” já que, obviamente, o sucesso do Levante de Varsóvia não
interessava aos comunistas. Eles não esperavam encontrar as tropas polacas armadas
e com o moral alto. Isso certamente dificultaria os planos de Stalin de fazer
da Polônia um estado-satélite dos russos, o que de fato ocorreu de 1945 a 1991.
Assim, o resultado do Levante de Varsóvia foi que a
Polônia perdeu 18 mil soldados, outros 25 mil ficaram feridos, e mais de 250
mil civis, entre eles 17 mil judeus poloneses, foram executados por ordem de Hitler.
Do lado alemão, 17 mil soldados morreram e 9 mil ficaram feridos. Esse
resultado só foi bom para as tropas soviéticas que quando retomaram sua
ofensiva, em 17 de janeiro de 1945, encontraram a cidade de Varsóvia completamente
devastada e conseguiram “libertá-la” sem grandes esforços. Cerca de 174.000
pessoas estavam na cidade naquele momento, menos de 6% da população de antes da
guerra. Entre os sobreviventes havia apenas 11.500 judeus.
Além de todas essas mortes, quando tudo terminou, cerca de 90% de Varsóvia havia sido destruída. Isso porque mesmo depois de vencer a batalha, as tropas alemãs incendiaram todos os bairros da cidade, dando especial atenção à destruição de monumentos históricos e de grande simbolismo para os poloneses, como tumbas de grandes heróis nacionais, o Parlamento Polonês, sua Biblioteca Nacional, seu Museu Nacional, etc. Literalmente, Hitler fez em Varsóvia o mesmo que planejou, e felizmente não foi bem sucedido, para Paris. Os alemães não deixaram sequer uma ponte de pé na cidade. Não havia água corrente e eletricidade, viver em Varsóvia naquela época era como viver em uma vila medieval na Alta Idade Média.
Essa história, eu aprendi no Museu do Levante de Varsóvia (Muzeum Powstania Warszawskiego), no distrito de
Wola, em Varsóvia, Polônia. Ele foi inaugurado em 31 de julho de 2004, marcando
o 60º aniversário da revolta.
E é sobre ele que falarei agora: O Museu do Levante de Varsóvia.
Construído
no local de uma antiga estação de energia, e com três andares, ele é um muito bem montado memorial que
retraça a história, os momentos-chave e o papel dos insurgentes (famosos e desconhecidos)
da ocupação Nazista de Varsóvia ao pós-guerra.
Com uma área total de mais de 3.000 m2,
800 peças expositivas, cerca de 1.500 fotografias, armas, uniformes, filmes, relatos
escritos, gravações sonoras e soluções inteligentes de multimídia, o foco do
museu é claro, o Levante. Nele conta-se a história dos dias anteriores à revolta,
e depois somos guiados por seus estágios subsequentes até os anos do pós-guerra
do regime comunista e o destino dos insurgentes na República Popular da Polônia
(PRL).
Minuta dla powstania – Godzina “W”: Todo dia 01
de agosto às 17h, Varsóvia inteira para (pessoas, carros, transportes públicos)
por 1 minuto de silêncio em memória aos rebeldes mortos. Dizem que é lindo o
tocar de sirenes e as badaladas dos sinos.
Durante a ocupação, Krystyna Krahelska morou em Varsóvia e trabalhou no Instituto Nacional de Cultivo Agrícola. Ela era mensageira para tarefas especiais na região de Nowogródek. De 1943 a 44, ela transportou armas, formou-se em medicina e trabalhou como enfermeira no hospital local em Włodawa, onde treinou outras meninas para o serviço médico. Durante a Revolta de Varsóvia, ela foi designada como enfermeira no pelotão de 1108 (comandante: Tenente Karol Wróblewski ps. "Wron") na 3ª companhia do 1º Esquadrão, "Jeleń" do 7º Regimento de Cavalaria de Lublin AK sob o pseudônimo de "Danuta". Em 01 de agosto, um pelotão alemão atacou o prédio da Casa da Imprensa, na rua Marszałkowska 3/5 (onde ficava a redação e a gráfica de "Nowy Kurier Warszawski"). Ela estava resgatando um colega ferido quando recebeu três tiros no peito. Foi operada no hospital dos insurgentes em Polna 34, mas não resistiu e morreu na manhã de 02 de agosto.
Batalha em Praga
Uma área muito emocionante é a dedicada às
crianças e aos jovens que colaboraram nas linhas de combate. Há, também, muitos
folhetos informativos e panfletos gratuitos (em polonês e inglês), incluindo 63
páginas de calendário que cobrem as datas de 1º de agosto de 1944 a 02 de
outubro de 1944, cada uma contendo um resumo dos eventos mais importantes que
ocorreram em um dia, em particular, da revolta (fotos acima).
A comunicação
Monumento em memória de Władysław Szpilman, “O
Pianista”.
A segunda parte da exposição permanente,
inaugurada em maio de 2006 no Hall B, apresenta a história dos lançamentos
aéreos aliados. Seu maior destaque é uma réplica de um bombardeiro Liberator
B-24J. Outra parte da exposição é dedicada aos alemães e seus aliados,
mostrando suas ações em Varsóvia conforme documentadas em textos oficiais da
época do Levante e em notas privadas.
As histórias de testemunhas oculares dos
eventos de agosto e setembro de 1944 são reproduzidas no Hall B. Essas
gravações pertencem ao Arquivo de História Falada audiovisual do Museu do
Levante de Varsóvia. Uma sala de cinema exibe filmes sobre a Insurreição
em uma tela panorâmica. Na galeria mezanino são exibidas várias exposições
temporárias.
É tudo tão bem feito e realístico que apesar
de não ser o museu mais explicativo que já visitei, foi o que mais me abalou!
A visita:
Logo na entrada encontramos essas cabine telefônicas. Nelas podemos escutar depoimentos.
A rendição de Varsóvia em 1939.
A
sala "pequeno insurgente": dedicada aos jovens insurgentes e à
experiência infantil na insurreição. A sala inclui uma réplica do monumento
"pequeno insurgente" e uma fotografia colorida de Róża Maria
Goździewska, uma menina que era conhecida como "a pequena
enfermeira".
Loja
de impressão: uma sala contendo máquinas de escrever originais e equipamento de
impressão usado para produzir jornais underground
durante a ocupação alemã.
Réplicas
do esgoto: uma no mezanino e outra no porão. É a nossa chance de experimentar, na
prática, como era rastejar pelos esgotos que eram usados para atravessar o
território ocupado pelos alemães. Há, também, fotografias e outros objetos daquela época.
Hospital
insurgente: onde se oferecia ajuda aos feridos durante a revolta.
Kino
paládio: um pequeno cinema mostrando um fluxo contínuo de imagens originais
tiradas por cineastas insurgentes em 1944. Elas foram usadas para produzir
noticiários exibidos no cinema Palladium de Varsóvia durante a revolta.
Hangar:
um salão contendo um Libertador de B-24 J em tamanho real.
Grande
cinema: no piso térreo, apresenta um filme reconstruído de noticiários.
Seção
nazista: retrata os horrores da ocupação alemã e as atrocidades cometidas pelos
Nazistas e seus colaboradores durante a revolta.
A rendição
Os rebeldes foram mortos ou deportados.
O presidente Franklin Delano Roosevelt, o primeiro ministro Winston Churchill e o líder soviético Joseph Stalin encontram-se em Yalta em 04 de fevereiro de 1945. Churchill queria que houvesse eleições diretas nos países do Leste Europeu. Entretanto, não conseguiu apoio politico interno. Cansados da guerra, os britânicos não queriam um novo round de batalhas contra a URSS. Assim, largados a própria sorte os rebeldes poloneses sentiram, e foram, traídos.
O Museu do Levante de Varsóvia abre todos os
dias, das 10-18h, exceto às terças. Sugiro que o visite no começo do dia para
evitar as multidões e que reserve ao menos três horas para explorá-lo.
Endereço: Grzybowska 79. Para chegar até o
local, pegue o bonde para a Rondo Daszyńskiego.
Entrada: 25 PLN, audioguia (fundamental e tem
em português) 10 PLN.
No próximo post, falarei sobre as locações do filme "O Pianista" em Varsóvia.
Abraços!!!
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