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sábado, 14 de novembro de 2020

Varsóvia: vistando as locações do filme "O Pianista"



O filme “O Pianista”, de 2002, é um drama coproduzido e dirigido por Roman Polanski, com roteiro de Ronald Harwood, e estrelado por Adrien Brody. Ele é baseado no livro de memórias homônimo do pianista Wladyslaw Szpilman.


O filme foi uma coprodução da França, do Reino Unido, da Alemanha e da Polônia, foi indicado a sete Óscares, e venceu nas categorias de Melhor diretor (Roman Polanski), melhor ator (Adrien Brody), e melhor roteiro adaptado (Ronald Harwood).


Tenho certeza que todos já assistiram, ao menos uma vez na vida, esse belíssimo filme, mas vamos relembrá-lo um pouco...


No filme, o pianista judeu-polonês Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody) interpretava peças clássicas em uma rádio de Varsóvia quando, em 1939, com a invasão alemã e o início da Segunda Guerra Mundial, as primeiras bombas começaram a cair sobre a cidade. A seguir, começaram as restrições aos judeus poloneses, que logo foram transferidos para o Gueto de Varsóvia. A família Szpilman é perseguida e, então, enviada para os campos de concentração. Wladyslaw, o único que consegue fugir, e é obrigado a se refugiar em prédios abandonados espalhados pela cidade. Apesar de toda a crueldade, trata-se de um filme muito bonito, pois Szpilman era um apaixonado pela vida. Ele orgulhava-se de sua família e amigos. E, luta por sua sobrevivência, mas, acima de tudo, anseia em dar o seu melhor para as pessoas: sua música.



Na vida real, Wladyslaw Szpilman nasceu na cidade de Sosnowiec, Polônia, em 05 de dezembro de 1911. Ele, de fato, viveu no gueto até a deportação da população judaica para os campos de concentração. Depois, foi para dois outros esconderijos. Sendo descoberto, no final da guerra, residiu em prédios abandonados. Em 1945, pouco depois do fim da guerra, ele escreveu um relato da sua sobrevivência em Varsóvia. O livro foi publicado na Polônia, com o título “Smierc Miasta” (Morte de uma Cidade). Nos anos subsequentes, Szpilman prosseguiu com sua carreira musical, tornando-se um dos mais produtivos compositores poloneses. Em 1998, as memórias de Szpilman foram publicadas, novamente, sob o título “O Pianista”. Além do filme de Polanski, a obra também inspirou a canção “O pianista” do Gueto de Varsóvia, do cantor uruguaio Jorge Drexler, incluída no álbum Sea, de 2001. Wladyslaw Szpilman faleceu, em Varsóvia, no dia 6 de julho de 2000.


A treta:

Contemporânea de Wladyslaw Szpilman, Wiera Gran foi uma cantora, muito conhecida dentro do gueto, que foi acusada de colaboracionismo após estabelecer relações com os nazistas. O Comitê de Judeus Poloneses acabou absolvendo-a, mas seus opositores prosseguiram com os ataques. As críticas a levaram a emigrar a Israel e depois à França. Ela morreu em Paris em 2007, vítima de Alzheimer.

No livro "A cantora do gueto de Varsóvia: Wiera Gran, a acusada", há uma referência a declarações da cantora que acusam Szpilman de ter sido membro da polícia polonesa no Gueto de Varsóvia. Essas declarações nunca foram confirmadas. Assim, em 2016, a família do pianista Wladyslaw Szpilman ganhou o processo que havia mobilizado contra a escritora polonesa Agata Tuszynska e a editora do livro.

Muitos anos se passaram desde o fim da Segunda Guerra Mundial, mas é impressionante como ainda rolam essas tretas e acusações de colaboracionismo.

Bem, quem vai visitar Varsóvia precisa ver, rever, o “O Pianista” antes de embarcar. Claro que daí surge uma curiosidade; onde foram gravadas as cenas do filme?

Tendo início em 09 de fevereiro de 2001, grande parte dele foi filmado no Studio Babelsberg em Potsdam, Alemanha. O Gueto de Varsóvia e a cidade circundante foram recriados no seu backlot exatamente como eles eram durante a guerra.


Na época, enquanto as planícies de Potsdam ressoavam o barulho dos tanques e metralhadoras no cenário ao ar livre de Babelsberg, Allan Starski, o cenógrafo-chefe (imortalizado por seu trabalho em "A Lista de Schindler"), costumava viajar quase que diariamente de Berlim a Varsóvia. Lá, Starski (cujo pai trabalhou com Szpilman depois da guerra) supervisionou pessoalmente as reformas de algumas das futuras locações.

As filmagens no Studio Babelsberg terminaram em 25 de março de 2001, e toda a equipe se mudou para Varsóvia, em 29 de março, onde o trabalho se prorrogou por mais onze semanas, até junho de 2001. Muitas cenas foram gravadas no Centro Histórico, bem como em Kobylka, um subúrbio de Varsóvia, assim como no distrito de Wola, infelizmente lembrado devido ao massacre da Revolta de Varsóvia. A cena passada na Umschlagplatz em que Szpilman, sua família, e centenas de outros judeus esperam para serem levados para os campos de extermínio foi filmada na “‘Akademia Obrony Narodowej” (Universidade de Defesa Nacional), no distrito distante de Rembertow (cidade separada até 1957).

Todavia, a maioria das filmagens foi realizada no, à época degradado, bairro de Praga- Polnoc. A equipe escolheu esse bairro porque ele ainda preservava vários edifícios originais. Assim, com a ajuda de Starski, o departamento de arte durante semanas o moldou a imagem e semelhança do Gueto de Varsóvia (que na realidade ficava do outro lado do rio). Contando com a cooperação do Instituto Histórico Judaico, a equipe examinou centenas de imagens de arquivo e fotos do gueto. Dessa forma, o departamento de cenário e adereços conseguiu reproduzir vários detalhes da Varsóvia do tempo da Segunda Guerra Mundial. Isso incluiu placas de identificação de ruas, corrimões de madeira, postes de iluminação, elementos para as cenas internas, figurinos para atores e centenas de extras, e até mesmo réplicas de sinais e cartazes do período.




Praga atualmente






Vamos ver as locações cena a cena? Esse é um passeio que pode ser feito fechando-se um tour por Praga com um taxista. Confesso que não o fiz, apesar de ter visitado o hoje hipster bairro de Praga Południe, porque a temperatura estava cerca de menos 15 graus... Logo, a maioria das fotos abaixo são do site War-documentary.info.


Leiam ao som de Chopin Balada No 1 em Sol menor OP23



Café Capri

Nem todos os edifícios do Centro Histórico de Varsóvia foram destruídos em 1945. É o caso de alguns presentes na moderna Plac Bankowy. Em contraste com a desolação geral da área circundante, o espaço aberto triangular que sobreviveu incluiu: 1) O prédio do Banco da Polônia e da Bolsa de Valores; 2) O Palácio do Ministério do Tesouro; 3) O Ministério da Indústria e Comércio 4) O antigo cortiço Kossecka. Este, o quarto, na parte sul da praça, foi uma das locações do filme. Para ser exata, o edifício, com arquitetura sofisticada de dois séculos de história, foi usado apenas nas cenas internas, retratando o Café Capri, local de trabalho para Wladyslaw Szpilman no filme.

Hotel Saski

O interior do local foi recriado sob a supervisão cuidadosa de Allan Starski, e apresenta detalhes históricos tão minúsculos que somos transportados facilmente para a Varsóvia ocupada. É importante notar que na via real Wladyslaw Szpilman trabalhava no Café Sztuka que se localizava do outro lado da praça, na rua Leszno.


“Depois de quatro meses, mudei para outro café, o Sztuka, na rua Leszno. Era o maior café do gueto e tinha aspirações artísticas. Apresentações musicais foram realizadas em sua sala de concertos. Eu mesmo apareci aqui tocando duetos de piano com Andrzej Goldfeder. Além da sala de concertos, havia um bar onde quem gostava mais da comida e bebida do que das artes podia obter bons vinhos.”
Wladyslaw Szpilman


Sabe a cena em que, nas primeiras semanas da ocupação alemã, Wladyslaw e Dorota caminham em direção a um café onde se lê “Zydom wstep wzbroniony” (entrada proibida para judeus)? Ela foi filmada na rua Kozia. Na verdade, essa filmagem não deu tanto trabalho assim para o departamento de arte já que a rua Kozia, com mais de mais de seis séculos de existência, foi gravemente danificada durante a Segunda Guerra Mundial, mas a maior parte dos seus edifício foi adequadamente reparado no pós-guerra.




Não houve a necessidade de serem trocadas as placas de identificação da rua Kozia.




Cabe destacar que o Café Paradiso do filme, na realidade se chama Café Telimenta e está localizado em uma casa de 1836. Anteriormente, ele se chamava Café Brzezinska e foi um dos locais de lazer favoritos de Frederic Chopin.


Imediatamente após receber a notícia que a Grã-Bretanha e a França tinham declarado guerra contra a Alemanha, a família Szpilman fica feliz. Mas, rapidamente são obrigados a cair na real: Wladyslaw, seu pai e seu irmão Henryk testemunham uma marcha militar pelas ruas de Varsóvia; a Polônia definitivamente estava ocupada. Essa cena foi filmada na Krakowskie Przedmieście.


Claro que a aparência devastada dos edifícios foi resultado do trabalho da equipe de arte. Ao fundo, se vê a estátua de Nicolau Copérnico em frente ao Palac Staszica.






Essa foto foi tirada desde as escadas da Kościół Świętego Krzyża (Igreja da Santa Cruz). A estátua de Copérnico, novamente, pode ser vista ao fundo.




Fotos do meu arquivo pessoal:




O Gueto - Bairro de Praga-Polnoc

Como falei anteriormente, o bairro de Praga-Polnoc foi o palco cinematográfico do Gueto de Varsóvia dos anos 1940 porque ele não foi muito danificado durante a Segunda Guerra Mundial.

Nas primeiras semanas da guerra (setembro de 1939), a área testemunhou algumas batalhas, mas houve pouca ou nenhuma destruição. Nos meses que se seguiram, essa região, na margem oriental do rio Vístula, chegou a ser cogitada pelos Nazistas para ser a sede do gueto, mas eles mudaram de ideia. Suas ruas só vieram novamente a presenciar batalhas quando do Levante de Varsóvia, em agosto de 1944. A chegada das tropas soviéticas e a ocupação do distrito preservaram-no da devastação. Os poucos habitantes que restavam na cidade àquela época comemoraram o fim da guerra no centro de Praga. No pós-guerra, com a restauração do Centro Histórico, Praga ficou abandonada durante o domínio comunista.

Rua Stalowa

A rua Stalowa, a principal e mais longa do bairro, historicamente é considerada o seu coração. Assim, no século XIX, foi o local onde os trabalhadores instalaram suas casas, inicialmente de um andar. No século XX, essa região, cheia de fábricas, ganhou apartamentos residenciais e foi pavimentada.

Várias cenas do “O Pianista” foram gravadas na rua Stalowa:


Cena 1 – Onde o pai de Wladyslaw é esbofeteado por um jovem oficial alemão e cai na calçada cheia de lama – filmada a altura dos números 10 e 12.




Cena 2 – Retrata a data de 31 de outubro de 1940, com a marcha dos judeus condenados. A equipe preencheu a área com placas de identificação e diversos cartazes onde se lê, por exemplo, “LEKI ZIOŁA KOSMETYKI”.






Cena 3 – Vê-se Wladyslaw e Henryk esperando para cruzar os portões e atravessar a ponte de madeira que ligava o Grande e o Pequeno Gueto. Na vida real, essa ponte ficava nas ruas Chlodna e Zelazna. A versão cinematográfica foi recriada na esquina das ruas Stalowa e Konopacka, em Praga. Repare na réplica do muro do gueto, ao lado da rua Konopacka. A linha do bonde, tal como é hoje, segue ao longo da rua Stalowa. O edifício atrás do portão recebeu o letreiro “BARDLA WSZYSTKICH” (Bar para todos).


Ao fundo o bonde que se vê na cena é “original” e foi adquirido pela equipe em uma garagem local.








A ponte, em si, aparece em diversas cenas do filme, como: a que Henryk Szpilman entra em colapso de exaustão e quando, mais tarde, Wladyslaw encontra um amigo e conhece Majorek.




Cena 4 - No dia que fugiu da deportação, Wladyslaw dirigiu-se a um endereço de conhecidos que o ajudariam a se instalar no lado "ariano" de Varsóvia. Dois homens usam uma carruagem puxada a cavalos para chegar a esse refúgio temporário. Lá, o  ex-pianista proeminente passa a noite em uma sala escondida nos fundos, com as pernas dobradas. Na manhã seguinte, Wladyslaw, como um polonês bem “cordeirinho”, pega um bonde. Essa cena foi filmada em Stalowa 11.




Rua Mala, a que mais atrai os turistas que buscam as locações de "O Pianista”

O desenvolvimento imobiliário da rua Mala (pequena) só teve inicio em 1880, mas a rua estreita e aconchegante logo atraiu diversos moradores para residências em edifícios de dois, três e, mais tarde, quatro andares. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua aparência histórica foi mantida, o que chamou a atenção dos produtores de "O Pianista”. Todavia, foi um desafio construir o muro do gueto cinematográfico em uma rua tão pequena sem causar um transtorno aos moradores. Mais tarde, Polanski meio que se arrependeu de tê-la escolhido porque, digamos assim, havia uns “bêbados” nas redondezas.

Várias cenas foram gravadas na rua Mala:

A cena onde Wladyslaw caminha ao longo do muro e tenta salvar um menino judeu que estava sendo espancado até a morte por sua atividade de contrabando.




Uma das cenas mais memoráveis do filme foi filmada a altura dos números 10-12 da rua Mala, quase na esquina com a rua Konopacka. Trata-se da cena na qual o protagonista volta ao gueto devastado logo após escapar de ser deportado para Treblinka. Ele está chorando, completamente arrasado, enquanto caminha.


Várias cenas retratam os raros sobreviventes durante a liquidação do Gueto de Varsóvia. Elas foram filmadas na esquina com outra pequena rua, a Zaokopowa.






A cena do assassinato do antigo dono do Capri foi filmada na rua Mala 6.


A cena noturna que retrata trabalhadores judeus caminhando ao lado do muro do gueto também foi filmada na rua Mala no início da primavera de 2001, antes da demolição da réplica do muro.





A filmagem das cenas finais, onde Szpilman encontra-se dentro do gueto devastado com as ruínas de Varsóvia ao seu redor, foi um desafio para a equipe. Ao final, elas foram feitas no antigo quartel militar, antes da demolição completa deste.

No mapa:






Boa viagem!!


PS: uma vez em Praga-Polnoc não deixe de vistar o Museu do Neon e seus arredores hipster (Praga Południe).


PS 2: se também tiver a oportunidade de ir a Cracóvia, coloque no seu roteiro a visita ao Museu Fábrica de Schindler e um tour pelas locações do filme “A Lista de Schindler”.

4 comentários:

  1. Sou do Rio de Janeiro e adorei essa narrativa, sou neto de poloneses e vío filme O PIANISTA algumas vezes, sempre me emocionando tal como A LISTA DE SHINDLER. Minha filha MICHELLE STRZODA é jornalista e já teve a felicidade de ir a Polonia, achou Varsóvia maravilhosa. Os detalhes que vc passou das filmagens são preciosos. Parabéns !
    Jorge Strzoda

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  2. Como uma grande fã do filme e do livro, isso é mais que um presente!

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  3. Que legal! Sou muito fan de Szpilman e de sua história. Inclusive, batizei 3 dos meus gatos de Wladek, Szpilman e Halina. Estou preparando uma viagem para Varsóvia para setembro próximo e estava aqui procurando exatamente o que você descreveu com excelência! Vou
    Visitar todos esses lugares! Obrigado !!

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