O filme “O Pianista”, de 2002, é um drama coproduzido
e dirigido por Roman Polanski, com roteiro de Ronald Harwood, e estrelado por
Adrien Brody. Ele é baseado no livro de memórias homônimo do pianista Wladyslaw
Szpilman.
O filme foi uma coprodução da França, do
Reino Unido, da Alemanha e da Polônia, foi indicado a sete Óscares, e venceu
nas categorias de Melhor diretor (Roman Polanski), melhor ator (Adrien Brody),
e melhor roteiro adaptado (Ronald Harwood).
Tenho certeza que todos já assistiram, ao
menos uma vez na vida, esse belíssimo filme, mas vamos relembrá-lo um pouco...
No filme, o pianista judeu-polonês Wladyslaw
Szpilman (Adrien Brody) interpretava peças clássicas em uma rádio de Varsóvia
quando, em 1939, com a invasão alemã e o início da Segunda Guerra Mundial, as primeiras
bombas começaram a cair sobre a cidade. A seguir, começaram as restrições aos
judeus poloneses, que logo foram transferidos para o Gueto de Varsóvia. A família
Szpilman é perseguida e, então, enviada para os campos de concentração.
Wladyslaw, o único que consegue fugir, e é obrigado a se refugiar em prédios
abandonados espalhados pela cidade. Apesar de toda a crueldade, trata-se de um
filme muito bonito, pois Szpilman era um apaixonado pela vida. Ele orgulhava-se
de sua família e amigos. E, luta por sua sobrevivência, mas, acima de tudo, anseia
em dar o seu melhor para as pessoas: sua música.
A treta:
Contemporânea de Wladyslaw Szpilman, Wiera Gran
foi uma cantora, muito conhecida dentro do gueto, que foi acusada de
colaboracionismo após estabelecer relações com os nazistas. O Comitê de Judeus
Poloneses acabou absolvendo-a, mas seus opositores prosseguiram com os ataques.
As críticas a levaram a emigrar a Israel e depois à França. Ela morreu em Paris
em 2007, vítima de Alzheimer.
No livro "A cantora do gueto de
Varsóvia: Wiera Gran, a acusada", há uma referência a declarações da
cantora que acusam Szpilman de ter sido membro da polícia polonesa no Gueto de
Varsóvia. Essas declarações nunca foram confirmadas. Assim, em 2016, a família
do pianista Wladyslaw Szpilman ganhou o processo que havia mobilizado contra a
escritora polonesa Agata Tuszynska e a editora do livro.
Muitos anos se passaram desde o fim da
Segunda Guerra Mundial, mas é impressionante como ainda rolam essas tretas e acusações
de colaboracionismo.
Tendo início em 09 de fevereiro de 2001, grande parte dele foi filmado no Studio Babelsberg em Potsdam, Alemanha. O Gueto de Varsóvia e a cidade circundante foram recriados no seu backlot exatamente como eles eram durante a guerra.
Na época, enquanto as planícies de Potsdam
ressoavam o barulho dos tanques e metralhadoras no cenário ao ar livre de
Babelsberg, Allan Starski, o cenógrafo-chefe (imortalizado por seu trabalho em
"A Lista de Schindler"), costumava viajar quase que diariamente de
Berlim a Varsóvia. Lá, Starski (cujo pai trabalhou com Szpilman depois da
guerra) supervisionou pessoalmente as reformas de algumas das futuras locações.
As filmagens no Studio Babelsberg terminaram
em 25 de março de 2001, e toda a equipe se mudou para Varsóvia, em 29 de março,
onde o trabalho se prorrogou por mais onze semanas, até junho de 2001. Muitas
cenas foram gravadas no Centro Histórico, bem como em Kobylka, um subúrbio de
Varsóvia, assim como no distrito de Wola, infelizmente lembrado devido ao
massacre da Revolta de Varsóvia. A cena passada na Umschlagplatz em que
Szpilman, sua família, e centenas de outros judeus esperam para serem levados para
os campos de extermínio foi filmada na “‘Akademia Obrony Narodowej” (Universidade
de Defesa Nacional), no distrito distante de Rembertow (cidade separada até
1957).
Todavia, a maioria das filmagens foi
realizada no, à época degradado, bairro de Praga- Polnoc. A equipe
escolheu esse bairro porque ele ainda preservava vários edifícios originais. Assim,
com a ajuda de Starski, o departamento de arte durante semanas o moldou a
imagem e semelhança do Gueto de Varsóvia (que na realidade ficava do outro lado
do rio). Contando com a cooperação do Instituto Histórico Judaico, a equipe examinou
centenas de imagens de arquivo e fotos do gueto. Dessa forma, o departamento de
cenário e adereços conseguiu reproduzir vários detalhes da Varsóvia do tempo da
Segunda Guerra Mundial. Isso incluiu placas de identificação de ruas, corrimões
de madeira, postes de iluminação, elementos para as cenas internas, figurinos
para atores e centenas de extras, e até mesmo réplicas de sinais e cartazes do
período.
Praga atualmente
Leiam ao som de Chopin Balada
No 1 em Sol menor OP23
Café Capri
Nem
todos os edifícios do Centro Histórico de Varsóvia foram destruídos em 1945. É
o caso de alguns presentes na moderna Plac Bankowy. Em contraste com a
desolação geral da área circundante, o espaço aberto triangular que sobreviveu
incluiu: 1) O prédio do Banco da Polônia e da Bolsa de Valores; 2) O Palácio do
Ministério do Tesouro; 3) O Ministério da Indústria e Comércio 4) O antigo
cortiço Kossecka. Este, o quarto, na parte sul da praça, foi uma das locações do
filme. Para ser exata, o edifício, com arquitetura sofisticada de dois séculos
de história, foi usado apenas nas cenas internas, retratando o Café Capri, local de trabalho para Wladyslaw Szpilman no filme.
Hotel Saski |
O
interior do local foi recriado sob a supervisão cuidadosa de Allan Starski, e apresenta detalhes históricos tão minúsculos que somos transportados facilmente
para a Varsóvia ocupada. É importante notar que na via real Wladyslaw Szpilman
trabalhava no Café Sztuka que se localizava do outro lado da praça, na rua
Leszno.
“Depois
de quatro meses, mudei para outro café, o Sztuka, na rua Leszno. Era o maior
café do gueto e tinha aspirações artísticas. Apresentações musicais foram
realizadas em sua sala de concertos. Eu mesmo apareci aqui tocando duetos de
piano com Andrzej Goldfeder. Além da sala de concertos, havia um bar onde quem
gostava mais da comida e bebida do que das artes podia obter bons vinhos.”
Wladyslaw Szpilman
Sabe a cena em que, nas primeiras semanas da
ocupação alemã, Wladyslaw e Dorota caminham em direção a um café onde se lê “Zydom
wstep wzbroniony” (entrada proibida para judeus)? Ela foi filmada na rua Kozia. Na verdade,
essa filmagem não deu tanto trabalho assim para o departamento de arte já que a
rua Kozia, com mais de mais de seis séculos de existência, foi gravemente
danificada durante a Segunda Guerra Mundial, mas a maior parte dos seus edifício
foi adequadamente reparado no pós-guerra.
Não houve a necessidade de serem trocadas as placas de identificação da rua Kozia.
Cabe destacar que o Café Paradiso do filme, na realidade se chama Café Telimenta
e está localizado em uma casa de 1836. Anteriormente, ele se
chamava Café Brzezinska e foi um dos locais de lazer favoritos de Frederic
Chopin.
Imediatamente
após receber a notícia que a Grã-Bretanha e a França tinham declarado guerra contra a
Alemanha, a família Szpilman fica feliz. Mas, rapidamente são obrigados a cair
na real: Wladyslaw, seu pai e seu irmão Henryk testemunham uma marcha militar
pelas ruas de Varsóvia; a Polônia definitivamente estava ocupada. Essa cena foi filmada na
Krakowskie Przedmieście.
Claro que a aparência devastada dos edifícios foi resultado do trabalho da equipe de arte. Ao fundo, se vê a estátua de Nicolau Copérnico em frente ao Palac Staszica.
Essa foto foi tirada desde as escadas da Kościół Świętego Krzyża (Igreja da Santa Cruz). A estátua de Copérnico, novamente, pode ser vista ao fundo.
Fotos do meu arquivo pessoal:
O Gueto - Bairro de Praga-Polnoc
Como falei
anteriormente, o bairro de Praga-Polnoc foi o palco cinematográfico do Gueto de
Varsóvia dos anos 1940 porque ele não foi muito danificado durante a Segunda
Guerra Mundial.
Nas
primeiras semanas da guerra (setembro de 1939), a área testemunhou algumas
batalhas, mas houve pouca ou nenhuma destruição. Nos meses que se seguiram, essa
região, na margem oriental do rio Vístula, chegou a ser cogitada pelos Nazistas
para ser a sede do gueto, mas eles mudaram de ideia. Suas ruas só vieram novamente
a presenciar batalhas quando do Levante de Varsóvia, em agosto de 1944. A chegada
das tropas soviéticas e a ocupação do distrito preservaram-no da
devastação. Os poucos habitantes que restavam na cidade àquela época comemoraram
o fim da guerra no centro de Praga. No pós-guerra, com a restauração do Centro Histórico,
Praga ficou abandonada durante o domínio comunista.
Rua Stalowa
A rua Stalowa,
a principal e mais longa do bairro, historicamente é considerada o seu coração.
Assim, no século XIX, foi o local onde os trabalhadores instalaram suas casas,
inicialmente de um andar. No século XX, essa região, cheia de fábricas, ganhou
apartamentos residenciais e foi pavimentada.
Várias
cenas do “O Pianista” foram gravadas na rua Stalowa:
Cena 1 –
Onde o pai de Wladyslaw é esbofeteado por um jovem oficial alemão e cai na
calçada cheia de lama – filmada a altura dos números 10 e 12.
Cena 2 –
Retrata a data de 31 de outubro de 1940, com a marcha dos judeus condenados. A
equipe preencheu a área com placas de identificação e diversos cartazes onde
se lê, por exemplo, “LEKI ZIOŁA KOSMETYKI”.
Cena 3 – Vê-se
Wladyslaw e Henryk esperando para cruzar os portões e atravessar a ponte de
madeira que ligava o Grande e o Pequeno Gueto. Na vida real, essa ponte ficava nas ruas
Chlodna e Zelazna. A versão cinematográfica foi recriada na esquina das ruas
Stalowa e Konopacka, em Praga. Repare na réplica do muro do gueto, ao lado da
rua Konopacka. A linha do bonde, tal como é hoje, segue ao longo da rua
Stalowa. O edifício atrás do portão recebeu o letreiro “BARDLA WSZYSTKICH” (Bar
para todos).
Ao fundo o bonde que se vê na cena é “original” e foi adquirido pela equipe em uma garagem local.
A ponte,
em si, aparece em diversas cenas do filme, como: a que Henryk Szpilman entra em colapso de
exaustão e quando, mais tarde, Wladyslaw encontra um amigo e conhece Majorek.
Cena 4 -
No dia que fugiu da deportação, Wladyslaw dirigiu-se a um endereço de
conhecidos que o ajudariam a se instalar no lado "ariano" de Varsóvia.
Dois homens usam uma carruagem puxada a cavalos para chegar a esse refúgio
temporário. Lá, o ex-pianista
proeminente passa a noite em uma sala escondida nos fundos, com as pernas
dobradas. Na manhã seguinte, Wladyslaw, como um polonês bem “cordeirinho”, pega um bonde. Essa cena foi filmada em Stalowa 11.
Rua Mala, a que mais atrai os turistas que
buscam as locações de "O Pianista”
O desenvolvimento imobiliário da rua Mala (pequena) só teve inicio em
1880, mas a rua estreita e aconchegante logo atraiu diversos moradores para residências
em edifícios de dois, três e, mais tarde, quatro andares. Durante a Segunda
Guerra Mundial, sua aparência histórica foi mantida, o que chamou a atenção dos produtores
de "O Pianista”. Todavia, foi um desafio construir o muro do gueto cinematográfico
em uma rua tão pequena sem causar um transtorno aos moradores. Mais tarde, Polanski
meio que se arrependeu de tê-la escolhido porque, digamos assim, havia uns “bêbados”
nas redondezas.
Várias cenas foram gravadas na rua Mala:
A cena onde Wladyslaw caminha ao longo do
muro e tenta salvar um menino judeu que estava sendo espancado até a morte por
sua atividade de contrabando.
Uma das cenas mais memoráveis do filme foi
filmada a altura dos números 10-12 da rua Mala, quase na esquina com a rua Konopacka.
Trata-se da cena na qual o protagonista volta ao gueto devastado logo após escapar de ser
deportado para Treblinka. Ele está chorando, completamente arrasado, enquanto
caminha.
Várias cenas retratam os raros sobreviventes
durante a liquidação do Gueto de Varsóvia. Elas
foram filmadas na esquina com outra pequena rua, a Zaokopowa.
A cena do assassinato do antigo dono do Capri foi filmada na rua Mala 6.
A cena noturna que retrata trabalhadores judeus caminhando ao lado do
muro do gueto também foi filmada na rua Mala no início da primavera de 2001,
antes da demolição da réplica do muro.
A filmagem das cenas finais, onde Szpilman
encontra-se dentro do gueto devastado com as ruínas de Varsóvia ao seu redor, foi um
desafio para a equipe. Ao final, elas foram feitas no antigo quartel militar,
antes da demolição completa deste.
No mapa:
Boa viagem!!
PS: uma vez em Praga-Polnoc não deixe de vistar o Museu do Neon e seus arredores hipster (Praga Południe).
PS 2: se também tiver a oportunidade de ir a Cracóvia, coloque no seu roteiro a visita ao Museu Fábrica de Schindler e um tour pelas locações do filme “A Lista de Schindler”.
Sou do Rio de Janeiro e adorei essa narrativa, sou neto de poloneses e vío filme O PIANISTA algumas vezes, sempre me emocionando tal como A LISTA DE SHINDLER. Minha filha MICHELLE STRZODA é jornalista e já teve a felicidade de ir a Polonia, achou Varsóvia maravilhosa. Os detalhes que vc passou das filmagens são preciosos. Parabéns !
ResponderExcluirJorge Strzoda
Obrigada, Jorge!
ExcluirComo uma grande fã do filme e do livro, isso é mais que um presente!
ResponderExcluirQue legal! Sou muito fan de Szpilman e de sua história. Inclusive, batizei 3 dos meus gatos de Wladek, Szpilman e Halina. Estou preparando uma viagem para Varsóvia para setembro próximo e estava aqui procurando exatamente o que você descreveu com excelência! Vou
ResponderExcluirVisitar todos esses lugares! Obrigado !!