Os Países Bálticos tem uma História complexa
e uma grande mistura de povos, dessa forma, ou por isso, séculos após séculos “invasões”
e grandes dramas foram vividos naquelas bandas. Apesar, da atual independência da Estônia, Letônia
e Lituânia ainda há no ar certo receio dessa não ser permanente a médio e longo
prazo.
Vamos entender um pouco melhor a História da Letônia/Riga...
Riga, a hoje capital da Letônia, foi uma das
principais cidades da Liga Hanseática do século XIII em diante. Como parte desse legado, ainda hoje, a cidade, que usou o alemão como língua oficial até o final do século XIX, tem uma grande população alemã. Entretanto, ela também foi por
longos períodos parte da Suécia e depois do Império Russo.
No final do século XIX e início do XX, Riga floresceu
como em nenhum outro momento de sua história. Foi nesse período que o estilo Art
Nouveau, Jugendstil, invadiu a cidade como em poucos outros lugares.
Após uma breve ocupação da Alemanha durante a
Primeira Guerra Mundial, a Letônia tornou-se um estado independente e Riga foi sua
capital natural no período entre guerras.
Monumento da Liberdade, em honra aos soldados mortos durante a Guerra da Independência da Letônia (1918-1920) |
Essa independência teve um fim abrupto após o
Pacto Molotov-Ribbentrop, entre Hitler e Stalin, ser assinado. Logo, a União
Soviética engoliu o Báltico e as partes orientais da Polônia.
Mais tarde, a Alemanha nazista quebrou o
acordo e invadiu as terras a Leste. Isso trouxe morte e destruição não apenas
para o leste da Polônia, bem como para Bielorrússia, Ucrânia e Rússia, e também
para os países bálticos.
Embora, inicialmente, alguns letões tenham encarado
a chegada dos alemães como uma libertação da URSS, isso rapidamente se tornou
uma notícia extremamente ruim para a grande e próspera comunidade judaica de
Riga. Na verdade, não demorou muito para que uma das piores fases do Holocausto
atingisse Riga (e o resto da região, como: Liepaja e Skede).
Um gueto foi estabelecido em Riga e uma série
de campos de concentração em seus arredores (Kaiserwald e Salaspils). Mas, os
piores crimes foram perpetrados em Rumbula e Bikernieku, onde os nazistas
realizaram execuções em massa de vítimas, predominantemente judias, pelas mãos
dos infames Einsatzgruppen.
A derrota da Alemanha nazista, porém, não
trouxe liberdade para Riga, nem para o Báltico como um todo. Houve sim a renovação da
ocupação, desta vez, novamente, pela URSS, e desta vez ela duraria até 1991.
Mas, houve resistência às atrocidades
comunistas. Em 1986, os manifestantes verdes obtiveram uma vitória incomum
contra a ditadura soviética ao impedir um plano de engenharia para barrar o rio
Daugava, perto de Riga, evitando assim um potencial desastre ambiental.
No restante da década, os protestos no
Báltico ganharam força e os apelos à independência ficaram mais altos,
especialmente por parte da Frente Popular da Letônia. Durante várias
manifestações, o Pacto Molotov-Ribbentrop, que a URSS negava ter existido, foi
exposto como a causa raiz ilegal da permanência da Letônia na União
Soviética. Os protestos culminaram no Caminho Báltico de 23 de agosto de 1989,
quando uma corrente humana se formou, estendendo-se de Vilnius a Tallinn, passando por Riga.
Após os violentos acontecimentos de janeiro
de 1991 em Vilnius, especialmente o ataque à Torre de TV no dia 13, os cidadãos
de Riga resolveram proteger o seu parlamento. Poucos
dias depois, as forças especiais soviéticas atacaram o Ministério do Interior. Mas, em um referendo realizado em março, quase três quartos do eleitorado
votaram pela independência Letônia. Esse foi um feito surpreendente, já que quase metade da população não era de etnia letã. Ao contrário, até hoje, Riga
tem uma grande “minoria” russa que, na verdade, numericamente está mais para a maioria
da população.
Depois disso, mais ataques das tropas
soviéticas seguiram-se. Todavia, eles não tiveram sucesso, e a independência da Letônia
foi finalmente reconhecida pela nova Federação Russa, que surgiu com a
dissolução da URSS.
Após a independência, Riga teve um boom econômico, inclusive em termos de
turismo, quando a cidade se tornou um dos “novos destinos mais badalados” da
Europa.
Mas, veio a crise financeira de 2008 e Riga foi
fortemente atingida. Em 2009, alguns surtos de violência chegaram a ocorrer, porém
felizmente as coisas se acalmaram. Em 2014, a Letônia adotou o euro e Riga foi considerada
a Capital Europeia da Cultura, junto com Umeå na Suécia.
Resumo histórico:
- 1939-1940 – 23 de Agosto de 1939 – A URSS e a Alemanha Nazista assinam um pacto de não agressão.
- 1940-1941 – Primeira ocupação Soviética
- 1941-1944/45 – Ocupação da Alemanha Nazista
- 1944/45-1953 – Ocupação Soviética/Terror stalinista
- 1953-1959 – Ocupação Soviética/Degelo
- 1959-1985 – Ocupação Soviética/Estagnação
- 1985-1990/91 – Ocupação Soviética/“Perestroika”
- 4 de Maio de 1990 – o Supremo Conselho Letão declarou a intenção de restaurar a independência total da Letônia e a RSS da Letônia foi renomeada para República da Letônia.
- 21 de Agosto de 1991 - a República da Letônia declarou sua total independência. Em 6 de Setembro, a independência do país foi oficialmente reconhecida pela ex-URSS.
Parte dessa História eu aprendi no Museu da Ocupação da Letônia 1940-1991, em Riga, e é sobre ele que falarei agora. Como fica claro no seu nome, ele é um museu
privado que versa sobre a ocupação da Letônia pela URSS em 1940/41 e 1944-1991, bem como a ocupação alemã nazista durante a Segunda Guerra Mundial, entre
as duas ocupações soviéticas.
Segundo o site oficial do museu:
“O
Museu da Ocupação da Letônia preserva a memória nacional, o memorial e a longa
história do destino do estado, do povo e da terra da Letônia,
enquanto estava sob o controle de duas potências totalitárias ocupantes de
1940-1991. Esta é a história da traição da URSS e da Alemanha nazista contra o
Estado soberano da Letônia, e as três ocupações que levaram seu povo a
ser levado aos limites extremos da sobrevivência física e mental. Esta história
é sobre opressão, terror e violência; sobre crimes contra a humanidade; sobre
impotência, medo e traição; mas também de desobediência, resistência e
heroísmo. No entanto, acima de tudo, é sobre a resistência e a força mental que
permitiram às pessoas sobreviver, restaurar a independência de seu estado e
trazer o país de volta à Europa e ao mundo.”
Essa é uma história real, mas sabe-se que desde a
Liga Hanseática a ligação desse povo com o alemão não é pequena. Ademais, é fácil
observar que há no ar um enorme ressentimento em relação às ambições
imperialistas, históricas, da Rússia. Fato é que inicialmente a exposição do
museu se restringia a primeira ocupação soviética de 1940-41, mas ela foi sendo
gradualmente expandida para cobrir todo o período até a reconquista da
independência da Letônia. Portanto, pode-se dizer que os curadores não
escondem que houve, em dado momento, certo colaboracionismo local com os
nazistas. Assim, esse museu difere do de Vilnius que foi muito criticado como
negacionista. Aqui o foco é no duplo Genocídio.
No
início da visita, vê-se um filme introdutório (quatro línguas: letão, inglês,
alemão e russo). A exposição segue, em ordem cronológica, com documentos históricos
e contemporâneos, fotografias, mapas, pôsteres e artefatos. Há também materiais
sobre o destino de indivíduos, com: depoimentos em vídeo, diários, cartas,
documentos pessoais, muitos itens memoriais e obras de arte. Achei a abordagem da
exposição meio antiquada, com pouco material de multimídia e muitos textos. Todavia
os textos não eram excessivamente longos ou complexos e as traduções para o
inglês eram geralmente boas. Então, ok.
Primeira ocupação Soviética, 1940/41
A conquista soviética não foi exatamente uma invasão militar total, mas sim uma poderosa intimidação à submissão. Oficialmente, a Letônia ingressou na União Soviética “voluntariamente”. Na prática, porém, tratou-se de um ato de imperialismo cultural. Não só, cerca de 15.000 letões foram deportados para a Sibéria em 1941.
Em 1949, uma segunda onda de deportações ainda maior ocorreu durante a segunda ocupação soviética, na era Stalin. Naturalmente, esse tema e o destino dos deportados aos gulags russos é um dos focos principais da exposição.
Ocupação pela Alemanha nazista, de 1941 a 1944/45,
e seu pior aspecto: o Holocausto.
Em apenas três anos, os nazistas exterminaram mais de 90% da população judia da Letônia. Embora a participação dos letões nessas atrocidades seja reconhecida, a exposição tenta minimizar um pouco esse aspecto, por exemplo, contrastando-a com as boas ações daqueles que ajudaram os judeus.
Segunda ocupação Soviética, de 1944/45 até 1991
Os tópicos cobertos aqui, além das deportações para os gulags, são a coletivização forçada e a socialização geral, tanto econômica
quanto cultural. As descrições dessas políticas soviéticas são contrastadas por
uma cobertura detalhada da resistência, que vai desde a guerra partidária,
especialmente até meados da década de 1950, a dissidência artística/cultural. A seção
seguinte foca no renascimento da identidade nacional letã na década de
1980, após a "glasnost" e a "perestroika", e a formação da Frente Popular. Os
desenvolvimentos equivalentes nos outros dois países Bálticos, Lituânia e
Estônia, também são abordados, em particular, é claro, o Caminho Báltico. Em seguida, vem a fase crítica do
início dos anos 1990, quando a Letônia tentou ativamente se separar da URSS,
desencadeando uma resposta militar em janeiro e agosto de 1991. Um documentário
mostra imagens das Barricadas de Riga. A violência de 13 de janeiro na Torre de
TV de Vilnius também é abordada. A exposição chega ao clímax com a independência
da Letônia. Há, ainda, breves comentários sobre as consequências e as
complicações na fase pós-soviética inicial, incluindo as imensas dificuldades
econômicas, bem como o impacto demográfico que a era soviética teve na Letônia.
Em 1989, apenas cerca de metade da população era realmente letã. Até hoje, a
presença e integração da grande população de etnia russa no país é
uma questão delicada.
Localização: atualmente, ainda, na Raiņa
bulvāris 7, a noroeste do Monumento da Liberdade. O edifício original, para
onde a exposição deve voltar, fica na Cidade Velha, entre a Casa dos Cabeças
Negras e o Monumento dos Riflemen, Latviešu strēlnieku laukums 1.
Como chegar: pode-se pegar ônibus ou trólebus
que param na Avenida Raiņa, ou então pegar um dos bondes (5-7,9) que param na
esquina do Teatro Nacional. Pode-se, também, pegar os bondes (2, 4, 5, 10) que
passam ao longo da avenida do rio e param em Rātslaukums.
Acesso gratuito. Tour guiado as 12 e 14h, 5 euros/pessoa.
Abre de terça a sábado das 11 às 17h.
Riga é a maior cidade do Báltico, e também a
que oferece uma maior gama de atrações que as outras duas capitais (Vilnius e
Tallinn), e isso inclui um número surpreendente de locais para quem curte
História e quer entender melhor as “Lembranças de um triste e conflituoso
passado recente”. Como em toda a região do Báltico, em Riga duas linhas
temáticas são predominantes: os lugares que exploram o passado comunista e aqueles
relacionados ao Holocausto.
São eles:
- Museu das Barricadas
- Museu da Frente do Povo
- Museu da Guerra
- Monumento da Vitória
- Memorial de deportação de Tornakalns
- Edifício KGB
- Cemitério Pokrov
- Cemitérios da floresta e dos irmãos
- Memorial Kaiserwald
- Bikernieku
- Museu do Gueto de Riga
- Centro de documentação dos judeus da Letônia
- Museu Memorial Janis Lipke
- Rumbula
- Museu da Aviação
- Museu de História da Medicina
Claro que será necessário fazer escolhas. Eu não vi boas indicações sobre o Museu da KGB e resolvi ir no de Tallinn, no Sokos Hotel Viru, esse sim muito legal. Mas, me arrependi de não ter ido ao Gueto
de Riga e Museu do Holocausto da Letônia. Veja os detalhes neste post. Outro lugar que gostaria de ter ido é ao Bunker VIP
em Ligatne. Trata-se de um abrigo antibomba nuclear subterrâneo, com 90 cômodos,
que foi construído para refugiar os figurões do partido caso rolasse o
apocalipse. Há excursões desde Riga. Ainda
nessa vibe, para se divertir, penso ser legal o Bunker Cruising Bar (Alfrēda
Kalniņa iela 4, Centra rajons).
Para bisbilhotar a estranha arquitetura soviética, o lugar mais indicado é o distrito Maskavas Vorstadt. Vale a pena ver as ruínas da Grande Sinagoga que foi incendiada durante a ocupação nazista, em 1941, com vários refugiados dentro. Ao seu lado está um memorial a Janis Lipke e outros letões que ajudaram, ou esconderam, judeus durante esse período sombrio.
A maior relíquia da época da URSS é impossível de se ignorar: o prédio da Academia de Ciências, um arranha-céu clássico da era Stalin. Ele pode não ser tão alto e maciço como os de Moscou, mas ainda é um marco notável. Atente para as foices e martelos na fachada da torre central. Mais abaixo, algumas estrelas soviéticas e outros símbolos foram removidos. Pode-se subir a uma plataforma de observação no seu topo.
Dominando a linha do horizonte de Riga, embora esteja localizada a certa distância do centro, está a Torre de TV. Com uma altura de 368m, esta é não apenas a estrutura mais alta da região do Báltico, mas também, juntamente com a de Berlim, a torre de TV mais alta de toda a União Europeia. Seu design é bastante incomum e muito diferente da maioria das outras torres de TV ao redor do mundo, que geralmente são agulhas de concreto cinza com plataformas redondas. Ela se apoia em três enormes pernas de aço que sustentam as duas torres centrais (enferrujadas) e a coisa toda é encimada por uma agulha de aço em vermelho e branco que contribui com mais de um terço da altura total. Há um deck de observação na seção central inferior da torre (aberto das 10 às 20h).
Por fim, na Cidade Velha, no meio da praça e de frente para o rio, há outra sobra da época soviética, o Monumento dos Riflemen. Ele originalmente foi dedicado apenas aos Fuzileiros Vermelhos da Letônia que eram da guarda pessoal de Lenin. Hoje, foi reinterpretado e serve de homenagem a todos fuzileiros.
Fico por aqui.
Abração!!
Para bisbilhotar a estranha arquitetura soviética, o lugar mais indicado é o distrito Maskavas Vorstadt. Vale a pena ver as ruínas da Grande Sinagoga que foi incendiada durante a ocupação nazista, em 1941, com vários refugiados dentro. Ao seu lado está um memorial a Janis Lipke e outros letões que ajudaram, ou esconderam, judeus durante esse período sombrio.
A maior relíquia da época da URSS é impossível de se ignorar: o prédio da Academia de Ciências, um arranha-céu clássico da era Stalin. Ele pode não ser tão alto e maciço como os de Moscou, mas ainda é um marco notável. Atente para as foices e martelos na fachada da torre central. Mais abaixo, algumas estrelas soviéticas e outros símbolos foram removidos. Pode-se subir a uma plataforma de observação no seu topo.
Dominando a linha do horizonte de Riga, embora esteja localizada a certa distância do centro, está a Torre de TV. Com uma altura de 368m, esta é não apenas a estrutura mais alta da região do Báltico, mas também, juntamente com a de Berlim, a torre de TV mais alta de toda a União Europeia. Seu design é bastante incomum e muito diferente da maioria das outras torres de TV ao redor do mundo, que geralmente são agulhas de concreto cinza com plataformas redondas. Ela se apoia em três enormes pernas de aço que sustentam as duas torres centrais (enferrujadas) e a coisa toda é encimada por uma agulha de aço em vermelho e branco que contribui com mais de um terço da altura total. Há um deck de observação na seção central inferior da torre (aberto das 10 às 20h).
Por fim, na Cidade Velha, no meio da praça e de frente para o rio, há outra sobra da época soviética, o Monumento dos Riflemen. Ele originalmente foi dedicado apenas aos Fuzileiros Vermelhos da Letônia que eram da guarda pessoal de Lenin. Hoje, foi reinterpretado e serve de homenagem a todos fuzileiros.
Fico por aqui.
Abração!!
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