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domingo, 6 de dezembro de 2020

A Série Lugares Secretos que Indico visita os Túneis do Bastião, Tallinn


Tallinn, a capital da Estônia, é uma cidade antiga, muito antiga, e como costuma ocorrer com as cidades antigas, ela guarda muitos segredos. A cidade medieval esconde, e, às vezes revela, histórias de fantasmas e de espiões, tesouros enterrados e túneis subterrâneos escondidos.

Um desses segredos veio à tona há pouco tempo. Os Túneis do Bastião, uma rede de corredores subterrâneos, construídos na década de 1680 pelos suecos, foi “redescoberta” em 2004, quando começaram a ser transformados em uma atração turística.


As passagens:

As paredes maciças que rodeiam as passagens e o teto abobadado são de pedra calcária, e as galerias em si têm cerca de 1,5m a 2,5m de largura e 2,5 a 3m de altura. A parede da escarpa tem mais de 3m, em alguns locais chega a 4m de espessura. Somando-se todas as passagens conhecidas, elas chegam a 1,3km; entretanto, nem todas elas estão conectadas. No momento, um total de 470m foi reformado, mas nem tudo está disponível para os visitantes.


Um detalhe interessante que se percebe no tour é que os corredores por onde seguimos no inicio foram alterados e reformados ao longo das décadas. Já na parte final, as paredes são originais e ficaram mais de cem anos fechadas, pois a parte mais profunda dos túneis costumava inundar.


Como é a visita?

Inicialmente, assistimos a um vídeo que conta a historia da cidade, dos bastiões e das passagens.


No começo do tour, descemos para as profundezas da colina Harjumäki e prosseguimos pelo túnel que está decorado de forma a contar a historia, em ordem cronológica, do uso dessas passagens subterrâneas.

A época do domínio sueco

No século XVII, os bastiões começaram a ser projetados em Tallinn sob a liderança de Erik Dahlberg, um proeminente engenheiro militar e arquiteto sueco.

Os suecos decidiram construir os bastiões para reforçar as defesas da cidade, considerando as antigas muralhas da cidade insuficientes para protegê-los contra as armas de artilharia modernas. Todavia, as obras avançaram muito lentamente, consequentemente as tecnologias da guerra se desenvolveram mais rápido do que a conclusão das fortificações. Assim, os túneis do bastião foram pouco usados.

Em 1710 o tempo do domínio sueco na cidade chega ao fim, após certa resistência na guerra contra a Rússia de Pedro, o Grande. Tem-se, então, inicio os duzentos anos de domínio da Rússia czarista.

Após o fim da guerra, os novos governantes transformaram as passagens subterrâneas em prisões. Diz-se que o ex-padre Arseni, que desafiou as ordens de Catarina, a Grande, viveu nas celas desses túneis até sua morte, em 1772.

Em 1857, Alexandre II ordenou a remoção dos bastiões da lista de fortificações russas, e eles foram transformados em locais para a administração civil. Foi mais ou menos nesta ocasião que as áreas do atual parque ao redor da Cidade Velha foram criadas em cima deles.

Século XX

No início do século XX, a nova República da Estônia não pôde gozar de paz por muito tempo. Já no início da década de 1930, a notícia da deterioração da situação política na Europa começou a se espalhar. A Estônia tinha plena consciência de que era um alvo da União Soviética, então o governo, em 1936, mandou reabriu os túneis para servir de abrigo antiaéreo durante a guerra.

Infelizmente, a Estônia conseguiu oferecer pouca resistência aos avanços comunista, e o país foi rapidamente ocupado em 1940. Logo depois, a Alemanha nazista expulsou os invasores. Infelizmente para os cidadãos traumatizados da Estônia, os nazistas eram tudo menos a força libertadora que esperavam, e a ocupação - já dura sob os soviéticos - rapidamente tomou um rumo mais bárbaro.

Como resultado, a resistência que antes usava os túneis como base para organizar ataques aos soviéticos, logo se voltou contra os nazistas.

Em nove de março de 1944, a União Soviética bombardeou terrivelmente Tallinn. Harjukatu, o Teatro da Estônia e a Igreja Nigulista foram quase completamente destruídos. Os abrigos antiaéreos foram realmente necessários.

Hoje, essa parte dos túneis é “decorada” com manequins vestindo roupas da época e pôsteres vintage informando às pessoas o que fazer durante um ataque aéreo. Há, por exemplo, o boneco de Laine Mõisamaa com sua avó. Elas estavam fugindo do bombardeio no abrigo junto a quase mil outros habitantes da cidade. A guia nos contou que quando o bombardeio diminui, elas saíram do túnel e se depararam com as ruas cheias de cadáveres. Os bombardeios mataram mais de 500 civis, dezenas de soldados e mais de 100 prisioneiros de guerra russos.

Após o fim da guerra, a Estônia foi novamente ocupada pelos soviéticos, e assim permaneceria até 1991. E dessa vez, durante a Guerra Fria, os Túneis do Bastião foram convertidos em abrigos civis para uma possível guerra nuclear. O antigo piso do solo era coberto com ladrilhos de pedra e os túneis eram ventilados, drenados e canalizados. Havia rádios, mascaras de gás e roupas antirradiação. Os cidadãos soviéticos faziam simulações de ataques nucleares. Felizmente, essas imagens de terror nunca se materializaram.


Essa é a Tenente da Proteção Civil Olga Ivanovna Petrovan. Atrás dela paira um dos fantasmas mais conhecidos dos Túneis do Bastião: uma figura feminina cintilante deslizando pelas paredes de pedra. No entanto, acredita-se que ela se mudou para Toompea para uma casa na rua Toomkooli !?!


A Cortina de Ferro tentou evitar que as influências ocidentais invadissem a União Soviética, mas suas aberturas escoaram influências que foram consideradas destrutivas: o punk era o pior de todos.

Em 1980, os soviéticos já tinham percebido que essas estruturas do século XVII muito provavelmente não ofereceriam grande resistência contra armas nucleares. Dessa forma, os tuneis estavam abandonados. Logo, os punks rockers, assediando milícias soviéticas, os invadiram. Conta-se que rolavam vários shows noturnos de bandas punks.

Com a Estônia conquistando sua independência no início dos anos 1990, os punks retornam para a luz do dia. A seguir, os túneis foram ocupados pelos sem-teto. Não havia água, eletricidade e nem ventilação, mas uma temperatura de 8 graus durante todo o ano era melhor do que estar ao ar livre no inverno.

No início dos anos 2000, os túneis foram limpos e os desabrigados foram despejados. O último deles foi o ex-guarda da fronteira Jüri, que não queria ir embora. Diz-se que ele acabou se mudando para o Bastião de Skoone.


Seguimos pelas passagens até alcançarmos um portal estelar de ferro. Do outro lado começa o Museu da Escultura em Pedra (Raidkivimuuseum) que fica na parte onde o túnel ficou submerso por mais de 100 anos.

O museu é único no mundo, já que raramente o próprio museu é construído com o mesmo material que suas exposições, neste caso o calcário.

O museu é composto por salas construídas com diferentes temas. Existem relógios de sol no Salão do Sol, mas infelizmente não funcionam. Por quê? Porque aqui o sol não brilha! No Salão da Morte existem lápides e no Jardim do Éden existem temas do mundo das plantas e figuras humanas como Adão e Eva. Um dos maiores tesouros é o dossel rochoso que ficava acima da fonte batismal da Igreja de São Nicolau.

O percurso acaba na Vabaduse väljak (Praça da Liberdade), na parte baixa da cidade. Note que a temperatura nas passagens é de 7 a 10° C, e há algumas escadas íngremes.




Entrada: 8 €; bilhete família 16 €. Visita guiada em inglês 12 €. Se preferir utilizar o audioguia, baixe-o aqui.

Endereço: você entra nos túneis pela mesma entrada do Museu Kiek in te kök, ou seja, na Komandandi tee 2, Toompea.


Horário de funcionamento: de maio a setembro, de segunda a domingo das 10h-18h. De outubro a abril, terça e quarta e de sexta a domingo as 10–17h; as quinta das 10–20h.

Como eu falei a entrada se dá pelo mesmo acesso do Museu Kiek in de Kök, na torre de mesmo nome. Já que ambos estão inclusos no Tallinn Card, vale a pena dar uma entradinha.

A exposição permanente na torre Kiek in de Kök visa dar ao visitante uma visão geral sobre o nascimento da cidade, a história das suas fortificações e as principais campanhas militares e cercos do século XIII ao século XVIII.


O subsolo e o primeiro andar da torre foram historicamente utilizados, respetivamente, como um espaço de armazenamento e área de defesa. Hoje, são utilizados principalmente para exposições temporárias, eventos especiais e concertos.


Para subir ao segundo andar, pode-se uma escadaria de pedra em espiral original que passa por uma antiga instalação privada chamada “dansker”.

Os itens em exposição no segundo andar informam ao visitante sobre as defesas, as muralhas, as torres e os portões medievais.

O layout da muralha defensiva da cidade de Reval e os modelos
de todas as suas torres.

Crime e castigo na cidade medieval.


A exibição do terceiro andar é dedicada aos últimos cercos e batalhas por Reval (Tallinn).

Todas essas armas de artilharia são réplicas exatas, pois os originais foram levados para São Petersburgo no século XIX e nunca mais foram devolvidos.

Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 10-17h. Quinta-feira fecha as 20h.

Dica dada, 

Abração!!

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