Tallinn, a capital da Estônia, é uma cidade
antiga, muito antiga, e como costuma ocorrer com as cidades antigas, ela guarda
muitos segredos. A cidade medieval esconde, e, às vezes revela, histórias de
fantasmas e de espiões, tesouros enterrados e túneis subterrâneos escondidos.
Um desses segredos veio à tona há pouco
tempo. Os Túneis do Bastião, uma rede de corredores subterrâneos, construídos
na década de 1680 pelos suecos, foi “redescoberta” em 2004, quando começaram a
ser transformados em uma atração turística.
As passagens:
As paredes maciças que rodeiam as passagens e
o teto abobadado são de pedra calcária, e as galerias em si têm cerca de 1,5m a
2,5m de largura e 2,5 a 3m de altura. A parede da escarpa tem mais de 3m, em alguns
locais chega a 4m de espessura. Somando-se todas as passagens conhecidas, elas
chegam a 1,3km; entretanto, nem todas elas estão conectadas. No momento, um
total de 470m foi reformado, mas nem tudo está disponível para os visitantes.
Um detalhe interessante que se percebe no
tour é que os corredores por onde seguimos no inicio foram alterados e reformados ao longo das décadas. Já na parte final, as paredes são originais e ficaram
mais de cem anos fechadas, pois a parte mais profunda dos túneis costumava inundar.
Como é a visita?
Inicialmente, assistimos a um vídeo que conta
a historia da cidade, dos bastiões e das passagens.
No começo do tour, descemos para as profundezas
da colina Harjumäki e prosseguimos pelo túnel que está decorado de forma a
contar a historia, em ordem cronológica, do uso dessas passagens subterrâneas.
A época do domínio sueco
No século XVII, os bastiões começaram a ser
projetados em Tallinn sob a liderança de Erik Dahlberg, um proeminente
engenheiro militar e arquiteto sueco.
Os suecos decidiram construir os bastiões
para reforçar as defesas da cidade, considerando as antigas muralhas da cidade
insuficientes para protegê-los contra as armas de artilharia modernas. Todavia,
as obras avançaram muito lentamente, consequentemente as tecnologias da guerra se
desenvolveram mais rápido do que a conclusão das fortificações. Assim, os
túneis do bastião foram pouco usados.
Em 1710 o tempo do domínio sueco na cidade
chega ao fim, após certa resistência na guerra contra a Rússia de Pedro, o
Grande. Tem-se, então, inicio os duzentos anos de domínio da Rússia czarista.
Após o fim da guerra, os novos governantes
transformaram as passagens subterrâneas em prisões. Diz-se que o ex-padre Arseni,
que desafiou as ordens de Catarina, a Grande, viveu nas celas desses túneis até
sua morte, em 1772.
Em 1857, Alexandre II ordenou a remoção dos
bastiões da lista de fortificações russas, e eles foram transformados em locais
para a administração civil. Foi mais ou menos nesta ocasião que as áreas do atual
parque ao redor da Cidade Velha foram criadas em cima deles.
Século XX
No início do século XX, a nova República da
Estônia não pôde gozar de paz por muito tempo. Já no início da década de 1930,
a notícia da deterioração da situação política na Europa começou a se espalhar.
A Estônia tinha plena consciência de que era um alvo da União Soviética, então
o governo, em 1936, mandou reabriu os túneis para servir de abrigo antiaéreo
durante a guerra.
Infelizmente, a Estônia conseguiu oferecer
pouca resistência aos avanços comunista, e o país foi rapidamente ocupado em
1940. Logo depois, a Alemanha nazista expulsou os invasores. Infelizmente para
os cidadãos traumatizados da Estônia, os nazistas eram tudo menos a força
libertadora que esperavam, e a ocupação - já dura sob os soviéticos -
rapidamente tomou um rumo mais bárbaro.
Como resultado, a resistência que antes usava
os túneis como base para organizar ataques aos soviéticos, logo se voltou
contra os nazistas.
Em nove de março de 1944, a União Soviética
bombardeou terrivelmente Tallinn. Harjukatu, o Teatro da Estônia e a Igreja
Nigulista foram quase completamente destruídos. Os abrigos antiaéreos foram realmente
necessários.
Hoje, essa parte dos túneis é “decorada” com
manequins vestindo roupas da época e pôsteres vintage informando às pessoas o
que fazer durante um ataque aéreo. Há, por exemplo, o boneco de Laine Mõisamaa
com sua avó. Elas estavam fugindo do bombardeio no abrigo junto a quase mil
outros habitantes da cidade. A guia nos contou que quando o bombardeio diminui,
elas saíram do túnel e se depararam com as ruas cheias de cadáveres. Os
bombardeios mataram mais de 500 civis, dezenas de soldados e mais de 100
prisioneiros de guerra russos.
Após o fim da guerra, a Estônia foi novamente
ocupada pelos soviéticos, e assim permaneceria até 1991. E dessa vez, durante a
Guerra Fria, os Túneis do Bastião foram convertidos em abrigos civis para uma
possível guerra nuclear. O antigo piso do solo era coberto com ladrilhos de
pedra e os túneis eram ventilados, drenados e canalizados. Havia rádios, mascaras
de gás e roupas antirradiação. Os cidadãos soviéticos faziam simulações de ataques
nucleares. Felizmente, essas imagens de terror nunca se materializaram.
Essa é a Tenente da Proteção Civil Olga
Ivanovna Petrovan. Atrás dela paira um dos fantasmas mais conhecidos dos Túneis
do Bastião: uma figura feminina cintilante deslizando pelas paredes de pedra.
No entanto, acredita-se que ela se mudou para Toompea para uma casa na rua
Toomkooli !?!
A Cortina de Ferro tentou evitar que as
influências ocidentais invadissem a União Soviética, mas suas aberturas
escoaram influências que foram consideradas destrutivas: o punk era o pior de
todos.
Em 1980, os soviéticos já tinham percebido
que essas estruturas do século XVII muito provavelmente não ofereceriam grande
resistência contra armas nucleares. Dessa forma, os tuneis estavam abandonados.
Logo, os punks rockers, assediando milícias soviéticas, os invadiram. Conta-se
que rolavam vários shows noturnos de bandas punks.
Com a Estônia conquistando sua independência
no início dos anos 1990, os punks retornam para a luz do dia. A seguir, os túneis
foram ocupados pelos sem-teto. Não havia água, eletricidade e nem ventilação,
mas uma temperatura de 8 graus durante todo o ano era melhor do que estar ao ar
livre no inverno.
No início dos anos 2000, os túneis foram
limpos e os desabrigados foram despejados. O último deles foi o ex-guarda da
fronteira Jüri, que não queria ir embora. Diz-se que ele acabou se mudando para
o Bastião de Skoone.
Seguimos pelas passagens até alcançarmos um
portal estelar de ferro. Do outro lado começa o Museu da Escultura em Pedra (Raidkivimuuseum)
que fica na parte onde o túnel ficou submerso por mais de 100 anos.
O museu é único no mundo, já que raramente o
próprio museu é construído com o mesmo material que suas exposições, neste caso
o calcário.
O percurso acaba na Vabaduse väljak (Praça da Liberdade), na parte baixa da cidade. Note que a temperatura nas passagens é de 7 a 10° C, e há algumas escadas íngremes.
Entrada: 8 €; bilhete família 16 €. Visita guiada em inglês 12 €. Se preferir utilizar o audioguia, baixe-o aqui.
Endereço: você entra nos túneis pela mesma entrada do Museu Kiek in te kök, ou seja, na Komandandi tee 2, Toompea.
Horário de funcionamento: de maio a setembro, de segunda a domingo das 10h-18h. De outubro a abril, terça e quarta e de sexta a domingo as 10–17h; as quinta das 10–20h.
Como eu falei a entrada se dá pelo mesmo
acesso do Museu Kiek in de Kök, na torre de mesmo nome. Já que ambos estão inclusos no Tallinn Card, vale a pena dar uma entradinha.
A exposição permanente na torre Kiek in de
Kök visa dar ao visitante uma visão geral sobre o nascimento da cidade, a
história das suas fortificações e as principais campanhas militares e cercos do
século XIII ao século XVIII.
O subsolo e o primeiro andar da torre foram historicamente
utilizados, respetivamente, como um espaço de armazenamento e área de defesa.
Hoje, são utilizados principalmente para exposições temporárias, eventos
especiais e concertos.
Para subir ao segundo andar, pode-se uma
escadaria de pedra em espiral original que passa por uma antiga instalação
privada chamada “dansker”.
Os itens em exposição no segundo andar informam ao
visitante sobre as defesas, as muralhas, as torres e os portões medievais.
O layout da muralha defensiva da cidade de Reval
e os modelos de todas as suas torres. |
Crime e castigo na cidade medieval.
A exibição do terceiro andar é dedicada aos últimos cercos e batalhas por Reval (Tallinn).
Todas essas armas de artilharia são réplicas exatas, pois os originais foram levados para São Petersburgo no século XIX e nunca mais foram devolvidos. |
Horário de funcionamento: de terça a domingo,
das 10-17h. Quinta-feira fecha as 20h.
Dica dada,
Abração!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário