Visitando as locações do filme “A Lista de Schindler” , na Cracóvia


Certamente, "A Lista de Schindler" é um dos melhores filmes que você já viu. O que? Você não o assistiu ainda? Neste caso, pare tudo e vá assisti-lo agora mesmo (tem no Netflix).





“Eu não acho que vá existir um dia filme, livro, série de TV ou documentário que possa representar a verdade pura do horror do Shoah. Nada poderá sequer se aproximar do que aconteceu. Mas nesse filme pude, pelo menos, dar um cheiro do que houve. E as pessoas então olharem para trás para dizer: ‘Eu não posso olhar adiante até olhar para trás, para isso. ’”


Steven Spielberg










Agora que todos já assistiram a um dos mais emocionantes filmes da história, vamos ao post...




A história da vida de Oskar Schindler:




Schindler nasceu em 28 de abril de 1908 na Morávia, região que hoje faz parte da República Checa. Sua família, católica e de classe média, pertencia à comunidade de falantes da língua alemã e seguia o Partido Alemão dos Sudetas, que apoiou o nazismo e lutou pelo desmembramento da Checoslováquia e sua anexação à Alemanha. Em 1936, após ter tido vários trabalhos, Schindler se juntou à Abwehr, o serviço de informações dos nazistas na Checoslováquia. Nesta época, antes da ocupação alemã da Checoslováquia (em 1938), ele recolhia, para o governo alemão, informações sobre as ferrovias e movimentos de tropas. Chegou inclusive a ser preso por espionagem pelo governo checoslovaco, ocasião em que alegou estar fazendo essas coisas apenas porque precisava de dinheiro. Tendo sido libertado, segundo os termos do Acordo de Munique, ele continuou o seu trabalho de recolha de informações para os nazis. No início da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939, Schindler se mudou para a Cracóvia, na Polônia, e, então, adquiriu uma fábrica de utensílios de cozinha que havia sido confiscada dos judeus. Essa fábrica empregava 1.750 trabalhadores, muitos dos quais eram judeus. Inicialmente, ele estava interessado somente em fazer fortuna. O que de fato conseguiu ao fazer uso de seus contados no Partido e agir no mercado negro.

Com dinheiro no bolso, ele adotou um estilo de vida extravagante, saindo à noite, confraternizando com oficiais de alto escalão e namorando belas mulheres polonesas. Ele parecia não ser diferente dos outros empresários alemães da região. Sua esposa, Emilie, contou em seu livro, “Memórias – À sombra de Schindler”, como ele gastou todo seu dinheiro com mulheres, apostas e bebidas. Ela afirmava que “nem em sonhos” voltaria a se casar com Oskar. Todavia, apesar de nunca ter se mostrado ideologicamente contrário aos ideais Nazistas, Schindler se horrorizava com a crescente brutalidade da perseguição à população judaica. Esse sentimento, aos poucos, provocou uma transformação profunda em sua personalidade, originalmente oportunista e gananciosa. Ele, então, passou a se mostrar disposto a se sacrificar para salvar a vida dos seus empregados judeus.

Schindler conhecia bem os alemães, assim, no final de 1942, expandiu os seus negócios para uma enorme fábrica de munições voltada aos esforços de guerra. Dessa forma, não foi tão difícil recrutar novos judeus do Gueto de Cracóvia, o que de inicio evitou a deportação de 370 deles para os campos de extermínio. Obviamente, para isso, ele teve que subornar os oficiais nazis com dinheiro e itens de luxo obtidos no mercado negro. Ademais, ele fez uso do seu status de empresário para obter contratos militares lucrativos e contratar cada vez mais judeus. Inclusive, Schindler não hesitou em falsificar os registros, listando crianças, donas de casa e advogados como mecânicos e metalúrgicos. Consequentemente, a Gestapo chegou a prendê-lo diversas vezes sob acusações de irregularidade e favorecimento de judeus.

Após 1943, o Gueto de Cracóvia e o Campo de Trabalho de Kraków-Płaszów tiveram de ser evacuados, por conta do avanço russo, e os prisioneiros foram enviados para os campos de concentração de Gross-Rosen e Auschwitz, onde foram exterminados. Nesta ocasião, Schindler convenceu o SS-Hauptsturmführer Amon Göth, comandante do Campo de concentração de Kraków-Płaszów, de continuar a sua produção em uma fábrica que ele e sua esposa tinham construído em Brünnlitz, na Morávia. Utilizando os nomes fornecidos pelo oficial da Polícia dos Guetos Judeus, copiou-se em um papel, a famosa lista de 1.200 judeus que viajaram para Brünnlitz em Outubro de 1944.

Apesar disso, 300 mulheres da lista de Schindler foram enviadas para Auschwitz. Ele, então, resolveu negociar a libertação delas, prometendo pagar diariamente aos nazistas pelo seu trabalho. Este acabou sendo o único caso da historia onde um grupo tão grande de pessoas saiu vivo de um campo de concentração enquanto as câmaras de gás estavam operando. Outro belo caso foi quando Schindler e Emilie salvaram 107 homens que iriam para os campos. Eles corajosamente pararam o trem que os levava e convenceram o comandante responsável de que necessitavam daquelas pessoas em sua fábrica. E, não foi só isso... Schindler também enfrentou os nazis e os impediu de incinerar os corpos que se encontravam congelados nos vagões. O casal, assim, organizou um enterro com ritos religiosos judaicos em um terreno perto do cemitério católico, comprado especialmente para esse fim.

Schindler continuou a subornar os oficiais das SS para impedir o massacre dos seus empregados, até ao final da Segunda Guerra Mundial, altura em que tinha já gasto a sua fortuna em subornos e no mercado negro para comprar provisões para os seus funcionários. Após o fim da guerra, Schindler foi viver na Alemanha, onde foi apoiado financeiramente pelas por organizações judaicas. Mais tarde, recebeu um reembolso parcial pelos seus gastos em tempo de guerra, e viajou para a Argentina. Separou-se de Emilie em 1957 e, embora não tivessem se divorciado, eles nunca mais se viram novamente.







Em 1958, novamente falido, regressou à Alemanha, onde foi malsucedido em vários negócios, e teve que ser ajudado pelos seus Schindlerjuden ("Judeus de Schindler"). Em 1963, recebeu o prêmio de Justos entre as Nações do Yad Vashem, o Memorial do Holocausto em Israel, honra oferecida aos não judeus que salvaram vidas judias durante a Segunda Guerra. Schindler morreu a 9 de Outubro de 1974, em Hildesheim, Alemanha. Para homenageá-lo, alguns dos seus Schindlerjuden levaram os seus restos mortais para Israel, onde foram enterrados no Nível Inferior do Cemitério Católico do Monte Sião, na encosta sul do Monte Sião em Jerusalém. A inscrição em sua sepultura diz: “O inesquecível salvador de 1.200 judeus perseguidos”.



os Schindlerjuden e seu salvador, 1948 em Colmar



O filme:

"A Lista de Schindler" foi filmado em 1993, com direção de Steven Spielberg, e o elenco principal abaixo:

  • Liam Neeson como Oskar Schindler;

  • Ben Kingsley como Itzhak Stern, o contador;
  • Ralph Fiennes como Amon Göth, o oficial da SS que administrou o Campo de concentração de Płaszów;

  • Caroline Goodall como Emilie Schindler;
  • Jonathan Sagall como Poldek Pfefferberg, o jovem judeu sobrevivente que deu a Schindler bens do mercado negro;
  • Embeth Davidtz como Helen Hirsch, uma jovem judia que Göth levou para ser sua empregada.


O filme foi um enorme sucesso de bilheteria, faturando 321,2 milhões de dólares, apesar de um orçamento modesto de apenas 22 milhões. Todo o lucro que Steven Spielberg obteve com o sucesso do filme foi usado para criar a Fundação Shoah, cujo objetivo é lembrar, e honrar, os sobreviventes do Holocausto.


Steven Spielberg: “O Holocausto era vida sem luz. Para mim, o símbolo
da vida é a cor. É por isso que um filme sobre o Holocausto
tem que ser em preto e branco”. 


Steven Spielberg e o diretor de fotografia Janusz Kamiński queriam dar ao filme uma sensação atemporal, logo optaram por gravá-lo em preto e branco. Ademais, Spielberg achou conveniente gravar desta forma já que só havia vivenciado o Holocausto através do testemunho de outras pessoas e de imagens de arquivo em P&B.

A menina de casaco vermelho que aparece no filme durante a liquidação do gueto representava a inocência e foi baseada em uma pessoa real. E, embora a personagem fictícia tenha morrido, a menina real, que se chamava Roma Ligocka, sobreviveu. Anos depois do lançamento do filme, ela publicou sua autobiografia (The Girl in the Red Coat) onde contou as dores de uma sobrevivente do Holocausto.




Outro fato curioso sobre o filme foi que Spielberg usou alemão e polonês em certas cenas para recriar a sensação de estar presente no passado. Também, utilizou o inglês para enfatizar os pontos dramáticos. O diretor estava interessado em fazer o filme inteiro em alemão e polonês, porém decidiu que "há muita segurança ao ler. Seria uma desculpa para desviar o olho da tela e assistir a algo mais".


"A Lista de Schindler" recebeu sete Oscars, dentre eles o de: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Liam Neeson), Melhor Ator Coadjuvante (Ralph Fiennes), Melhor Fotografia e Melhor Montagem. Ademais, também recebeu 3 Globos de Ouro e 7 BAFTAs. Em 2007, o American Film Institute elegeu Schindler's List como o oitavo melhor filme americano da história.

No filme, Itzhak Stern (25 de janeiro de 1901-69) teve grande destaque. Ele era um judeu polonês que foi contador de Oskar Schindler na fábrica (Deutsche Emailwarenfabrik). Stern, assim como Schindler, foi um oportunista que, de inicio, ofereceu à empresa mão de obra judia a um preço mais baixo do que dos trabalhadores poloneses. Pensando em ganhar dinheiro, ele falsificou documentos para fazer com que professores e intelectuais se passassem por mecânicos e operários. Todavia, desta forma, ele deu empregos para judeus que seriam considerados não essenciais e, provavelmente, seriam mortos. Sensibilizado pela causa, aos poucos se envolveu, e acabou sendo o responsável pela digitação da lista de nomes conhecidos como a Lista de Schindler.





A viúva de Stern aparece no final do filme visitando a sepultura de Schindler escoltada por Kingsley. Seu irmão Natan Stern foi também um dos judeus de Schindler.

Há outros filmes sobre essa historia, como: um documentário britânico, de 1983, produzido por Jon Blair para a Thames Television, com o título Schindler: His Story as Told by the Actual People He Saved; um programa biográfico na A&E Biography, Oskar Schindler: The Man Behind the List, de 1998.

As filmagens:

Elas começaram em 1° de março de 1993 e duraram cerca de setenta dias, tendo sido realizada na Cracóvia, Polônia, uma das poucas cidades não destruídas durante a guerra. Os poloneses locais receberam bem os cineastas, mas houve alguns incidentes antissemitas. Por exemplo, conta-se que houve uma mulher idosa, que ao confundir Fiennes com um nazista, disse: "os alemães eram pessoas encantadoras. Eles não mataram ninguém que não merecesse”.

Evidentemente, o clima nas filmagens era emotivo. Várias atrizes choraram enquanto filmavam a cena do chuveiro, incluindo uma que havia nascido em um campo de concentração. Barra pesada, sobretudo para Spielberg, que inclusive recebia ligações de Robin Williams a cada duas semanas para animá-lo com algumas piadas.

Visitando as locações do filme:

Na Cracóvia atual, lugares como o Campo de Trabalho de Kraków-Płaszów, que ficava a leste da cidade velha, e o de Gross-Rosen não existem mais. Logo, foi construída, a partir dos mapas originais, uma réplica de Plaszów composta por 34 quartéis, sete torres de vigia e até uma estrada pavimentada com lápides judaicas, em uma pedreira abandonada ao pé do Monte Krakus. Já a vila de Amon Goeth foi reproduzida a menos de um quilômetro do prédio original, que ainda fica na Jerozolimska.



A região real onde ficava o Guetto, que ficava no bairro de Podgórze, em 1993 já tinha sido muito modernizada para servir de locação. Desta forma, utilizou-se, para se filmar as cenas do gueto, o bairro Kazimierz que pouco mudou desde 1940, e é onde os judeus moravam antes de serem transferidos para o Guetto.



Então, vamos dar um rolê por Kazimierz, ouvindo:


Kazimierz, onde fiquei hospedada, é considerado atualmente o bairro boêmio da cidade, com vários bares, restaurantes e cafés super "transadinhos". Nele, há diversas sinagogas e cemitérios judeus.



Para entrar no clima desse tour, o ideal é começar o passeio na Ulica Szeroka, de costas para a Sinagoga Velha, do o séc. XV. O quarteirão judaico se estende a frente com a Sinagoga Poppera à direita, a Sinagoga e Cemitério Remuh à esquerda, e o Memorial do Holocausto ao fundo. Pensar que muitos que moraram nesta praça no pré-guerra foram mortos é de arrepiar!








"Era uma vez em Kazimierz”, o melhor bar/café/restaurante do bairro


Na Szeroka 18, se localiza o restaurante Ariel que fica no prédio onde Steven Spielberg e sua esposa viveram durante a produção do filme. Já o parque atrás do Memorial do Holocausto, no extremo norte da rua, pode ser visto nas cenas da liquidação do gueto.



Perto dali fica a Ciemna, onde Poldek Pfefferberg escapa por pouco da morte depois de esbarrar em Amon Goeth, alegando que ele tinha ordens para limpar a rua.


Mas adiante, na Józefa 12, se tem acesso a um pátio onde várias cenas foram gravadas. Dentre elas, as da liquidação do gueto, em 1943, como: a cena em que os soldados nazistas arremessam malas e demais pertences dos judeus, de cima do balcão para o chão do pátio e àquela famosa da Sra. Dresner. Lembram-se, quando ela correu, depois de ter escondido a filha Danka sob algumas tábuas do assoalho? Difícil se esquecer de que ela foi flagrada por um jovem guarda amigo de seu filho, que deveria ter assobiado o alarme para as tropas próximas, mas que em vez disso, a escondeu sob as escadas e disse ao outro guarda que a área estava vazia. Tendo salvado a vida dela, ele viu a Sra. Dresner se reunir com a filha, depois as escoltou para a fila "boa". Acho que essa é uma das cenas do filme que mais me emocionam.









Na época da guerra, a maioria das famílias tinha que atravessar a pé a Most Powstańców Śląskich, sob o rio Vístula, para se encaminhar até o Guetto de Podgórze. Apesar dessa ponte ainda estar de pé, ela não foi usada como local de filmagem. Optou-se por filmar essas cenas na Most Pilsudkiego.





No bairro onde o Guetto realmente se localizou, Podgórze, está a antiga Fábrica de Schindler. Todavia, as cenas do filme não foram gravadas no seu interior, e sim em uma fábrica de esmalte em Olkusz, na província de Malopolska (cerca de 40 minutos de Cracóvia). Do seu interior, apenas as escadas foram gravada, assim como a sua famosa fachada. Hoje, a Fábrica de Schindler funciona como um museu, mas contarei essa história no próximo post...




Para conhecer mais profundamente o antigo distrito judeu Kazimierz e o bairro vizinho onde ficava o gueto no período nazista, o Free Walking Tour Cracovia Judia é a melhor opção. O ponto de encontro é em frente a Sinagoga Velha, a duração é de 2:30h e termina na Fábrica de Schindler. Horário: de Novembro a Fevereiro, diariamente às 15h; de Março a Junho, diariamente às 10:15 è 15h; Julho e Agosto, diariamente às 10:15, 15 e 17h; Setembro e Outubro, diariamente às 10:15 e 15h.

Se preferir fazer o tour sozinho, pegue um mapa e explore Kazimierz, depois atravesse a most Powstańców Śląskich, e siga a pé até a plac Bohaterów Getta (Praça dos Heróis do Gueto). Esse é um espaço publico que objetiva lembrar e homenagear as vitimas do Gueto de Cracóvia, que se localizava nesta área. Durante a Segunda Guerra Mundial, esta praça foi o ponto de partida de milhares de judeus do gueto para os vários campos de concentração espalhados pela Polônia, principalmente para Auschwitz e Birkenau. A praça é composta por 70 cadeiras vazias em bronze que representam as possessões descartadas pelos deportados. Cada cadeira também representa mil vitimas. Nela, não deixe de visitar a Apteka pod Orłem que é uma espécie de museu, localizado dentro de uma antiga farmácia, onde a história do gueto é contada. Endereço: Plac Bohaterów Getta, 18. Entrada: 10 zl. Quem não quiser andar pode pegar o bonde 3, descer na praça e depois seguir a pé até a Fábrica de Schindler. Ou faça como eu, que peguei um táxi na Rynek Główny até a Fábrica. No caminho, o motorista fez uma espécie de tour guiado, parando por alguns minutos na plac Bohaterów Getta. Ao que me lembro, paguei cerca de 20 zl. Recomendo para quem tem pouco tempo na cidade.



A igreja, onde os judeus se encontravam clandestinamente, e onde Schindler teve seu primeiro contato com o mercado negro judeu, é a igreja mais importante dae Cracóvia, a gótica Basílica de Santa Maria, ao lado da Praça do Mercado. A estação ferroviária que aparece no filme é a Krakow Glowny. As cenas de 'Brinnlitz' foram gravadas na pitoresca cidade velha de Niepolomice, a cerca de 40 quilômetros a leste de Cracóvia.















Auschwitz-Birkenau







Os guardiões do Memorial de Auschwitz proibiram a equipe de filmar no interior de Auschwitz-Birkenau, apesar deste já ter servido de locação a vários outros filmes de Hollywood, incluindo o Triunfo do Espírito, de 1989. Então, optou-se por realizar essas cenas na cidade de Oświęcim, tendo Auschwitz II ao fundo. Sobre eles, evidentemente, falarei em um post próprio logo adiante...





Auschwitz
Auschwitz II – Birkenau

No mapa: 



Bem, guardem todas essas informações, e emoções, que no próximo domingo visitaremos o Museu Fábrica de Schindler.

Até...

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