Lembranças de um triste e conflituoso passado em Berlim: a Segunda Guerra Mundial


De 1939 a 1945, para o bem, ou para o mal, Berlim viveu intensamente a Segunda Guerra Mundial.




E, boa parte desta história ainda pode, e deve, ser (re)vivida ao se conhecer a antiga capital da Alemanha Nazista.





Hitler na declaração de guerra contra os Estados Unidos no Reichstag, em 11 de dezembro de 1941.




Durante a guerra, Berlim foi da gloria e devoção...




à destruição quase total.






Então, vamos ver outras atrações além dos pontos relacionados à arquitetura do Terceiro Reich. Veremos agora mais do enorme legado que as consequências da guerra deixou para a humanidade.


Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche


Construída nos anos 1890, essa igreja foi palcos de vários eventos nos tempos imperiais, mas, em 1943, foi bombardeada e teve uma grande parte destruída. Todavia, ao contrario de outros edifícios danificados que foram posteriormente reconstruídos, a população da cidade decidiu mantê-la inalterada. Assim, a Gedächtniskircheide, cercada por prédios modernos, se parece com uma grande cicatriz no meio da nova Berlim. E, era mesmo esse o objetivo, para nunca se esquecer e jamais repetir tamanhas atrocidades. 
O edifício atualmente conta com uma igreja nova e uma torre de sino separada que possui uma capela anexa, ambas construídas entre 1959-63. O memorial fica no piso térreo da antiga igreja. Endereço: Breitscheidplatz. Horário: a Igreja: abre todos os dias, das 9 às 17h; o Memorial abre de segunda a sábado, das 10 às 18h e aos domingos das 12 às 17:30h. Entrada gratuita.













Inaugurado em 2001, esse é um dos maiores museus judaicos da Europa. Contudo, sua parte mais interessante seja a área dedicada a Israel, há dentre as exposições, que ocupam os três edifícios, uma parte que retrata a história dos judeus que viveram na Alemanha Nazista. Há fotos, cartas e itens pessoais expostos que nos faz “vivenciar” esse triste eepisodio da humanidade. Endereço: Lindenstraße 9-14. Como chegar: metrô U6 Kochstrasse ou U1 Hallesches Tor. Abre de terça a domingo de 10 às 20h/as segundas de 10 às 22h. Entrada: 8 € (incluído no Museum Pass Berlin).


O complexo de prédios onde o museu se localiza é obra de Daniel Libeskind, um arquiteto filho de sobreviventes do Holocausto.






Memorial de Guerra Soviético (Sowjetisches Ehrenmal Tiergarten)

Pertinho do Reichstag, em pleno Tiergarten, esse memorial possui uma historia curiosa: ele, durante a Guerra Fria, fazia parte do setor britânico, todavia ele sempre foi guardado por soldados soviéticos que vinham todos os dias da GDR só para isso. Endereço: Strasse des 17. Juni.

Memorial aos Homossexuais perseguidos sob o nazismo em Berlim


Obra dos artistas Michael Elmgreen and Ingar Dragset, esse memorial foi aberto em 27 de maio de 2008. Endereço: Ebertstraße.



Memorial aos Sinti e Roma Vítimas do Nacional-Socialismo

O monumento é dedicado à memória das 220.000-500.000 pessoas assassinadas em Porajmos - o genocídio nazista dos povos europeus Sinti e Roma. Endereço: Simsonweg.




Neue Wache (Nova Casa da Guarda)

Originalmente construída para ser uma espécie de cabana para as tropas do príncipe herdeiro da Prússia, desde 1931 abriga o o “Memorial Central da República Federal da Alemanha para as Vítimas da Guerra e da Ditadura”. Endereço: Unter den Linden 4. Horários diariamente de 10 às 18h. Entrada: gratuita.







Olhando para esta mansão bonita e luxuosa, dificilmente imaginar que este foi o palco de uma conferência sangrenta que teve uma marca tão profunda em nossa história. Em 1942, as principais figuras do regime nazista e do exército dos SS reuniram-se nesta para planejar a solução final da “questão judaica”. Endereço: Am Großen Wannsee 56-58. Aberto diariamente das 10-18h. Entrada grátis.


Memorial da Estação Friedrichstrasse

Foi dela que sairam mais 10.000 crianças judias, de países como Alemanha, Áustria e Polônia, para a deportação antes do início da Segunda Guerra. Felizmente, muitas delas foram salvas, todavia o mesmo não ocorreu com seus pais. Endereço: Georgstrasse, na saída da estação.

Escultura de Frank Meisler com 7 crianças. Cinco crianças são feitas de bronze cinza escuro e tem um semblante triste o que representa as crianças que não tiveram a sorte de serem salvas. As outras duas são feitas de bronze claro e olham em outra direção, representando as crianças que foram salvas pelo Kindertransport.



Fonte: gallery.nen.gov.uk

Memorial Block der Frauen (Bloco de mulheres)

Esse memorial é uma homenagem às mulheres que participara do O memorial do protesto das mulheres protesto de Rosenstraße. Esse foi um protesto não violento que se deu na Rosenstraße ("Rua da rosa") entre fevereiro e março de 1943. Realizado apenas por mulheres não-judias, elas “se levantaram” contra a prisão de homens judeus presos em um prédio nesta rua (aguardavam a deportação), que felizmente conseguiram a libertação deles. Foi um dos mais significativos exemplos da resistência alemã ao Holocausto. Essa historia foi transformada em filme pela diretora Margarethe von Trotta, em 2003, sob o título de Rosenstraße. Endereço: Rosentrasse 2-4.


Fonte: wikipedia.org



Berliner Unterwelten

Essa empresa oferece tours em bunkers, túneis e esconderijos usados tanto na Segunda Guerra Mundial, quanto durante a Guerra Fria. São eles:


  • Tour 1 – Dark Wolrds: entra-se no "bunker" pelo metrô de Gesundbrunnen, e na visita vemos uma espécie de exposição que apresenta como viviam os moradores durante a guerra (na cidade e quando escapavam para o bunker). Há, ainda, uma amostra de objetos encontrados nos pós-guerra, dentre eles algumas armas. Todas as vistas são guiadas e funciona como uma verdadeira aula de história. Eu o fiz e super recomendo. Ele é oferecido nas quarta e domingo às 11h (em inglês), e dura cerca de 90 minutos. Ingresso: 12 euros.
  • Tour 2 – From Flak Towers to Mountains of Debris: neste tour se pode conhecer as seis torres  que Hittler mandou construir para servirem como artilharia antiaérea. É, possível, também, se conhecer três dos sete andares de um dos maiores bunkers da cidade. 
  • Tour 3 – Subways and Bunkers in the Cold War: este foi um bunker construído no cenário da Guerra Fria, em preparação para uma possível Guerra Nuclear. Há, ainda, a vista em um U-Bahn, para se ter uma ideia melhor do que seria um bunker moderno.


Os acima são tous públicos e os ingressos podem ser comprados online ou no escritório da empresa (Brunnenstraße 105). Os abaixos são tours privados para grupos.

  • Tour F – The Fichtebunker time capsule: este é um dos maiores e mais modernos bunkers restante, que é considerado como sendo para mãe e filho. Construído sob uma estação de gás, ele, ainda, serviu no pós-guerra como centro de refugiados, prisão, abrigo e, mesmo, como cenário de peças teatrais. 
  • Tour M – Under the Berlin Wall: logo após a construção do Muro de Berlim houve várias tentativas de escavação de túneis para se tentar atravessar clandestinamente as fronteiras, que eram fortemente vigiadas. O primeiro deles data de 1961 e o último, de 1984. Houve mais de 70 túneis de fuga, e neste tour é possível se visitar dois dos mais famosos.


Campo de concentração Sacsenhausen

O campo concentração de Sacsenhausen iniciou suas atividades em 1936, quando apenas prisioneiros de guerra eram para lá levados. Durante a guerra, judeus, ciganos, homossexuais, poloneses, soviéticos e outros passaram a também ser admitido. Em 1945, o campo foi desativado e mais tarde foi transformado em grande complexo composto por um museu e um memorial aos mortos no genocídio. Como chegar: pegue o trem S1 em direção a Oranienburg (última parada) na estação de S+U Brandenburger Tor, Potsdamer Platz ou Friedrichstrasse. Da estação de Oranienburg para o campo: andando são cerca de 20 minutos. Entrada no campo: grátis. Veja aqui detalhes da visita.

Os falsário, um filme baseado na história real de prisioneiros do Campo de Sachsenhausen




Um pouco de história...



Em 20 de abril, no aniversário de 56 anos de Adolf Hitler, a artilharia soviética iniciou um bombardeio maciço a Berlim, preparando o terreno para o ataque iminente da infantaria. Enquanto isso, o general Ivan Kónev, comandante da 1ª Frente Ucraniana, quebra o flanco norte do Centro do Grupo do Exército Alemão, enquanto a 2ª Frente Bielorrussa, sob o comando do general Konstantin Rokosovski, ataca o III Corpo Panzer. Assim começou o cerco soviético no coração do Reich. Mas, inesperadamente a Batalha de Berlim se tornou um dos últimos grandes combates da Segunda Guerra Mundial. Os aliados, liderados pelo Exército Vermelho de Stalin, contavam com cerca de 1,5 milhão de soldados e tiveram que enfrentar quase 85 mil defensores do regime nazista, dentre eles: soldados da Wehrmacht e Waffen SS, crianças e os velhos da milícia-popular de Volkssturm e meninos fanáticos da Juventude Hitlerista. Os soldados de Hitler resistiram bravamente dentro do que era a sede do Parlamento da República de Weimar antes de o Führer chegar ao poder. Mas, em 2 de maio, após a tomada do Reichstag pelo Exército Vermelho, finalmente os berlinenses se renderam oficialmente. No entanto, a luta de rua continuou no noroeste, oeste e sudoeste da cidade até a rendição incondicional da Alemanha Nazista, que ocorreu uma semana depois, em 8 de maio de 1945. Essa batalha terminou com a morte de 50.000 soldados nazistas, 80.000 aliados e mais de 100.000 civis.



Soldados voltam do front





Todavia, para os berlinenses os sofrimentos da guerra não tinham acabado. Não que eles contassem com isso. Na verdade, a chegada do Exército Vermelho em Berlim foi precedida por uma onda de pânico, pois os refugiados que chegavam da Prússia Oriental já contavam histórias atrozes sobre assassinatos indiscriminados e estupros. E, infelizmente, os temores dos berlinenses foram confirmados em grandes proporções uma vez que se sabe que cerca de 130 mil mulheres foram violentadas pelos soldados soviéticos.

Berlim em 1945



Berlim antes e agora - imagens do El País








O sofrimento inicial foi grande, no entanto não se sabia na ocasião que seria tão duradouro para alguns. Acontece que após a derrota do país na Segunda Guerra Mundial, teve início a Guerra Fria. Dessa maneira, a Alemanha permaneceria dividida por 40 anos, só vindo a ser reunificada em 1990, depois do colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria.

Em Berlim, as pessoas referem-se a 1945 como a Stunde Null (a hora zero), para, assim, descreverem o quase-total colapso do país. Foi depois desta “hora 0” que, na Conferência de Potsdam, a Alemanha foi dividida pelos Aliados em quatro zonas de ocupação militar: as três zonas a oeste viriam a formar a República Federal da Alemanha (conhecida como Alemanha Ocidental), enquanto a área ocupada pela União Soviética se tornaria a República Democrática da Alemanha (conhecida como Alemanha Oriental), ambas fundadas em 1949. A Alemanha Ocidental estabeleceu-se como uma democracia capitalista e a sua contraparte oriental, como um Estado comunista sob influência da URSS. Em Potsdam, os Aliados decidiram que as províncias a leste dos rios Oder e Neisse (a "linha Oder-Neisse") seriam transferidas para a Polônia e a Rússia (Kaliningrado). O acordo também determinou a abolição da Prússia e a repatriação dos alemães que residiam naqueles territórios, formalizando o êxodo alemão da Europa Oriental.

Essa divisão, em Berlim, gerou muitas tensões. E, em 1948, após desentendimentos sobre a reconstrução e uma nova moeda alemã, Stálin instituiu o Bloqueio de Berlim, impedindo que alimentos, materiais e suprimentos pudessem chegar a parte leste da cidade. Assim, no inicio da década de 50, iniciou-se uma verdadeira fuga do regime comunista oriental. Como consequência, na madrugada de 13 de Agosto de 1961, construiu-se o Berliner Mauer. Sobre ele e todo o período da Guerra Fria falarei nos próximos posts.

No mapa:




Domingo que vem tem mais...

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