A Série Lugares Secretos que Indico te apresenta o Palazzo Salis, em Tirano


Quase na fronteira com a Suíça, Tirano é cidadezinha localizada no vale Valtellina. O que, em geral, leva os turistas a ela é que de lá parte o Bernina Express, o mundialmente famoso trem panorâmico da Rhätische Bahn.

A cidade é calma, mas muito charmosa. Assim, aconselho que se destaque ao menos uma tarde para explorá-la.

O Museo Palazzo Salis é, sem dúvidas, um dos lugares que o turista deve visitar.

Seu edifício data da segunda metade do século XVII, e desde sempre a propriedade pertenceu a nobre família von Salis-Zizers, que inclusive já fez governadores na região. Em 2007, ele foi aberto ao público.


Atualmente, são cerca de dez salas decoradas com afrescos e estuques, originais dos séculos XVII e XVIII, que podem ser visitadas. Bem como o histórico Jardim Italiano, na parte de trás do edifício.

Após pagar a entrada, recebe-se um audioguia, e dar-se inicio ao tour. Retornando a parte externa, admire a fachada do palazzo. Seu estilo é típico do final do século XVI, e o grande destaque é o portal central em estilo barroco, projetado pelo grande arquiteto maneirista italiano Giacomo Barozzi da Vignola (dito: Il Vignola).



A fachada do Palazzo Salis é ladeada por duas torres.


De volta ao edifico, observe que ele se organiza em torno de dois pátios, chamados corte della meridiana (pátio rústico com o disco solar) e corte dei cavalli (pátio dos cavalos). Todas as salas do museu se voltam para estes pátios.

Corte della meridiana

Subindo-se a escadaria principal, chega-se ao salone d'onore (salão principal), cujo belo teto possui afrescos e decorações pictóricas barrocas, atribuídas a Antonio Cucchi. Sua decoração data da segunda metade do século XVIII, o que a difere de outras salas do palácio, cujos afrescos datam da segunda metade do século XVII. Ou seja, estes são mais recentes, já que foram danificados ao longo dos anos por alguns incêndios. Esse salão foi restaurado nos anos 80s do século passado, sob a supervisão da Superintendência de Patrimônio Ambiental e Arquitetônico.

3. Salao Diana, 4. Salão com teto policromado, 5. Sala de Apolo e Aurora,
6. Sala das Maravilhas, 12. Salão da lareira,
13. Sala do Endimion, 14. Salão Turco,
15. Sala Telamon, 16. Saloncello
Arquitetura prospectiva, obra de Ferdinando Crivelli

A seguir, entra-se no Salão de madeira, cujas paredes são decoradas com diversos motivos arquitetônicos. Mas, seu destaque é o teto de madeira em caixão. Ele é emoldurado por cornijas e embelezado por um adereço central que retrata Diana diante de uma paisagem campestre.


A deusa está armada com um arco e dois cães, seus fiéis companheiros de caça, estão os seus pés.


Nesta sala há uma exposição de desenhos, mapas e documentos relativos a certos aspectos do edifício e do patrimônio da família.

No Salão com teto policromado, observa-se um medalhão, no centro do teto, que retrata o mitológico Endymion que, segundo a lenda, foi colocado em um sono eterno por Zeus por ter se apaixonado por Hera, e em resposta recebeu o amor da Lua (Selene) que o visitava todas as noites. Atrás dele, um pequeno Eros parece ser o artífice desse amor, enquanto atira uma de suas flechas.






Nesta sala são exibidos retratos de alguns membros ilustres da família, bem como documentos relativos à concessão de títulos nobres.

O Salão de Apollo e Aurora deve seu nome a uma vasta área de afrescos no seu teto abobadado. Contra um pano de fundo de um amplo céu azul com nuvens dispersas, a carruagem de Apolo parece voar, enquanto Eos (Aurora) e Eros, de olhos vendados, deixam cair gotas de pétalas delicadamente coloridas. As decorações de Trompe-l'oeil, pintadas nas paredes criam o efeito de dois andares e terminam em uma balaustrada “olhando” para o interior da sala.


Salão Apolo e Aurora, dedicada a um pintor de Valtellina do século XIX chamado Antonio Caimi.


Antonio Caimi nasceu em Sondrio em 181, e estudou na Academia Brera, em Milão. Ele era famoso como pintor de retratos, mas também era muito interessado em arqueologia.



Nas paredes, os oito desenhos preparatórios para os afrescos (1837) são obra de Antonio Caimi. Eles foram levados para o Palazzo Salis, onde uma irmã da pintor morava, já que havia se casado com o conde Rodolfo.



Na Sala das Oito Maravilhas, veem-se os Jardins Suspensos da Babilônia, as Pirâmides do Egito, o Templo de Ártemis em Éfeso, o Mausoléu de Halicarnaso (construído por Artemísia em memória de seu marido), a estátua de Zeus em Olímpia, o Colosso de Rodes e o Farol de Alexandria. As setes maravilhas do mundo. Mas, nesta sala uma oitava maravilha foi adicionada: o Coliseu. 








O pintor anônimo conseguiu criar um efeito de perspectiva particular, pintando as oito cenas em lunetas, que se apoiam em molduras quebradas, "abertas" cromaticamente em direção a um mundo exterior imaginário.





O studiolo de Olympus foi concebido como uma área de acesso entre a escadaria e o Salão das Oito Maravilhas. Apesar de pequena, o fato é que ela é linda com suas lunetas e teto decorados com cenas mitológicas, onde deuses e deusas sentados em carruagens passeiam por espaços abertos e luminosos. Marte, Mércurio,Apolo, Júpiter e Juno são todos claramente reconhecíveis. Ademais, vê-se cópias dos estatutos civis e penais de Valtellina (com datas diferentes) em suas vitrines.


A capela privada, dedicada a São Carlos Borromeu, em estilo barroco, remonta ao início do século XVII. No teto abobadado há medalhões com afrescos ilustrando a Assunção da Virgem, São Francisco, e São Carlos.



Anteriormente, pertencia a Simone Venosta.



O teto canelado do vão central é embelezado por um motivo octogonal, hexagonal e cruciforme em estuque azul e dourado. Destaque para o brasão de Simone Venosta, com uma águia e faixas horizontais vermelhas, sustentadas por duas figuras angélicas. Simétrico a isto no arco triunfal vê-se os brasões de Giovanni Salis e Costanza de 'Perari.


As salas que rodeiam o "Pátio dos Cavalos" são predominantemente decoradas com maravilhosos afrescos da época da construção do palazzo.


Na sala seguinte, o destaque é uma impressionante lareira de estuque e sobre ela o brasão de armas que representa a concessão do título de "Conde" a Giovanni Salis pelo imperador Leopoldo I de Habsburgos (26 de agosto de 1694).


Passando-se a Sala do Endimion, chega-se a impressionante Sala dos Bustos que possui uma cornija multilinear pintada com figuras mitológicas identificáveis pelos seus atributos: Zeus com uma águia, Juno com um pavão e Mercúrio com o seu capacete alado. Não deixe de reparar as figuras de telamons, em alternância com quatro cabeças “turcas”, que sustentam o medalhão central.
 Sala do Endimion

Na decoração do teto abobadado há 4 bustos emoldurados.





Seis lunetas mostram cenas agradáveis, caracterizadas, exceto uma, por uma figura central que representa atributos relativos, como: a caça, a guerra, a devoção, a sabedoria e a vida. A sexta cena ilustra uma família Parnassus.



Na sala seguinte, há doze telamons (uma figura masculina usada como pilar para suportar um entablamento ou outra estrutura), em diferentes posições, com diferentes expressões em seus rostos enfeitando o teto abobadado.





Finalmente, chega-se ao balado “Saloncello”.

Toda a decoração desta sala reflete que a mesma foi pensada para o convívio da família Salis. Um dos seus destaques é a imponente lareira feita em estuque, que representa o casamento entre Giovanni Stefano Salis e sua primeira esposa, Katharina von Wolkenstein.







Inúmeros brasões de importantes famílias (por exemplo, Medici, Borromeo, Visconti) com quem a família Salis teve contato ocupam a elaborada cortina acima das portas para destacar a relevância política dos Salis. Ao longo de todas as partes superiores das paredes corre um friso com afrescos com vistas e urnas, alternadas com colunas nas quais outros brasões são pintados.


O "Saloncello” era o ponto de encontro do poder político de Valtellina nos séculos XVII e XVIII.



Mas, o que nos faz suspirar é mesmo a decoração do teto, graças à precisão e qualidade do desenho ilusionista. Ao olhar-se para o teto, muito abobadado, tem-se a ilusão de que esse se abre para o céu. No centro, um medalhão representa Baco, uma referencia ao fato do palazzo ser um centro de produção e comércio de vinho.


Trompe-l’œil





Indo novamente para o primeiro piso, atravessa-se um pórtico com abóbada cruzada para entrar-se no Jardim Italiano do Palazzo Salis, que é um dos jardins mais importantes da Lombardia.





Seu desenho atual é o resultado de diferentes mudanças desde o século XVII até a segunda metade do século XIX.

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Jardins de estilo italiano são muito raros na área alpina, logo este é um verdadeiro “Lugar Secreto que Indico”.


Seu elemento central é uma fonte cercada por quatro sebes de caixa que criam um labirinto de sempre-vivas que inclui uma ampla variedade de rosas. Outro destaque do jardim é o impressionante Cedro do Líbano, provavelmente plantado na década de 1830, que protege a família Salis por muitas gerações.




A região de Valtellina é famosa pelo vinho regional e sua extraordinária gastronomia. E, como já falei, a base econômica da Família Salis é a produção e comércio de vinho. Logo, outro atrativo do palazzo são as suas históricas adegas (datam do século XVI). Veja aqui como visita-las em associação a um almoço no Palazzo Salis.

Endereço: Via Salis, 3.

Horário de funcionamento: de 01 de abril até o fim de outubro, de segunda a sábado das 10 às 15:30h.

Em resumo: um museu muito interessante para entender como vivem os italianos endinheirados. Vale a pena!

Bom domingo!

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