A história da arte decorativa no Victoria & Albert Museum
Esse blog, agora, apenas se dedica as minhas dicas de viagem, mas antes de inaugurar o blog Decorando com a Si ele também focava em decoração/design. Então, vocês devem ter notado que adoro esse tema. Consequentemente, em minhas viagens não perco a chance de visitar museus que focam nessa forma de arte, a arte decorativa.
Londres possui um museu inteirinho dedicado ao design, o Victoria & Albert Museum, que apresenta coleções de joias, roupas/fashion (que mostrei aqui), móveis (galerias medievais e renascentistas e as galerias britânicas), quadros, têxteis, etc. Ele é gigantesco. Logo, quem não mora na capital inglesa deve, antes de visitá-lo, pesquisar as suas preferências e planejar o que ver, e do que terá de abrir mão.
Esse post, então, apesar de subjetivo, visa inspirar a programação da sua visita. Ou seja, agora, vou focar em duas sessões que na minha opinião são um MUST-SEE no V&A.
A primeira é a Dra. Susan Weber Gallery (sala 135). Segundo o site do museu, nela conta-se a história do design e da produção de móveis nos últimos 600 anos através da exibição de mais de 200 peças, incluindo cadeiras, mesas, gabinetes, bancos, baús, armários e guarda-roupas. Designers como Thomas Chippendale, Frank Lloyd Wright, Eileen Gray, Charles e Ray Eames, Tom Dixon e Ron Arad são apresentados ao lado de nomes menos conhecidos.
| a paleta em preto e branco acentua os diversos materiais utilizados nas 200 peças em exibição, que datam do século XIV até o presente |
O diferencial dessa exposição é a interatividade e o seu caráter educacional. Há, junto às peças, 16 monitores, cada um focado em uma técnica específica de construção, decoração e estofamento dos móveis. Pela primeira vez em uma das galerias permanentes do V&A, etiquetas digitais foram usadas, fornecendo acesso a informações adicionais, além de imagens de alta qualidade.
| projetado pela NORD Architecture, a galeria
possui um layout longo e estreito |
Destacando-se a progressão do design de móveis
ao longo da história, 25 grandes peças de mobiliário estão organizadas
cronologicamente em uma espécie de ilhas na área central da sala. Nelas se veem
um armário do século XVII, uma cômoda do século XVIII, um imponente sofá do
século XIX construído por John Henry Belter, e uma variedade de peças do século
XX.
Na exposição explora-se uma variedade de
técnicas, incluindo marcenaria, talha, torneamento e manufatura digital. Além
disso, em monitores individuais, técnicas decorativas, como laqueamento, japanning, pintura e “douramento”, são
apresentadas.
Os visitantes são convidados a tocar as
amostras dos diferentes materiais usados em móveis, como madeira de lei, casco
de tartaruga, rattan ou ferro
fundido. Duas tabelas interativas apresentam telas digitais, que fornecem
informações adicionais sobre como materiais específicos são adquiridos, suas
vantagens e desvantagens, e links para peças na galeria que exemplificam o
material.
O que me chamou a atenção foi que a curadoria
preferiu destacar o fato de que: apesar de ter havido alguns avanços tecnológicos
fundamentais na produção de móveis ao longo dos anos, como o uso de serras mais
finas para cortar folheados no século XVI e a chegada de plásticos no século XX,
ao fundo e ao cabo os fabricantes frequentemente retornam aos métodos
tradicionais de trabalho. Métodos esses que, por mais incrível que pareça, já eram praticados no Egito antigo.
O legal é que os curadores justapõem
propositalmente peças de diferentes séculos “face a face”, tendo elas em comum
apenas o material... O resultado final é totalmente diferente.
Sete displays oferecem um resumo das
carreiras de oito designers influentes, incluindo Thomas Chippendale, Roentgens
e Frank Lloyd Wright. Também são apresentados designers menos conhecidos, como
George Brookshaw, um pintor decorativo que trabalhou no final do século XVIII. Há
ainda o perfil de David Kirkness (trabalhou nos anos 1880-1930), designer e
fabricante das cadeiras Orkney.
Nesses displays, podemos ouvir áudios onde vários
especialistas, incluindo o arquiteto David Adjaye e a designer de interiores
Laurence Llewelyn-Bowen, nos fornecem mais informações. Além disso, uma
variedade de filmes explicam elementos da construção de móveis, desde como a
marchetaria de boulle (inventado no século XVII por Pierre Golle, fabricante de
móveis franceses que trabalhou nos anos 1644-1684) é feita até a maneira como
uma cadeira de plástico moldada por injeção é criada.
Cadeira que são icônicas (adoro cadeiras, inclusive tenho um post sobre esse assunto). Cliquem nos nomes para ler mais, aqui no blog, sobre essas cadeiras.
Localização: quarto piso, sala 135.
Outra seção que merece a vista dos amantes
das artes decorativas é aquela marcada no mapa do museu como "Moderna",
originalmente parte da Biblioteca Nacional de Arte. Ela é composta por três salas
onde a historia do design no século XX é o foco. A sala 74 apresenta a exposição
“20th Century, Internationalism & Modernism”; na 75, há mostras temporárias
e, na sala 76, temos “O design a partir de 1945”.
O século XX foi um período de grande agitação
social e artística. Arte, design, teatro e performances
foram todos profundamente afetados pelo impacto catastrófico das duas guerras
mundiais, pelo medo e suspeita da Guerra Fria, e pela rápida mudança de posição
das mulheres na sociedade.
Várias “escolas” se sucederam no design quase
que em uma velocidade recorde.
Ainda na década de 1880, surgiu, desde Glasgow
e Edimburgo, a Escola Escocesa. Um grupo de artistas e designers criaram
esquemas decorativos no qual arquitetura, designs de interiores, móveis e
acessórios se harmonizavam de forma a criar um estilo surpreendentemente
moderno. Já, do início da década de 1890 até a Primeira Guerra Mundial, surge o
movimento Art Nouveau. Sua influência pode ser encontrada em pinturas,
esculturas, joias, vidros e cerâmicas. Os desenhos de Aubrey Beardsley, a
arquitetura de Victor Horta e Paul Hankar, e os pôsteres de Alphonse Mucha são
alguns dos exemplos mais conhecidos desse estilo.
Nos anos após a Primeira Guerra Mundial e a
Revolução Russa, a vanguarda artística sonhava com um mundo novo
e livre de conflitos, ganância, e desigualdade social. Foi neste contexto que
surgiu, no design e na arquitetura, o modernismo. Não se tratou exatamente de
um estilo, mas de uma coleção solta de ideias. Na verdade, muitos estilos
diferentes podem ser caracterizados como modernistas, desde que compartilhem de
certos princípios subjacentes, como: a rejeição da história, a preferência pela
abstração; e uma crença de que design e tecnologia podem transformar a
sociedade.
O surrealismo também foi um dos movimentos
artísticos mais influentes do século XX. O termo foi cunhado pela primeira vez
em 1917, pelo crítico de arte e poeta Guillaume Apollinaire, e, em 1924, foi
usado por André Breton para descrever um movimento politicamente radical que
visava mudar as percepções do mundo.
Já, o termo Art Deco refere-se a um estilo
que teve o seu boom nos anos 1920 e 30.
Época marcada pela Grande Depressão, a falta de grana afetou todas as formas de
design, das artes plásticas às artes decorativas, passando pela moda, cinema e fotografia.
Todas essas tendências podem ser vistas na sala 74 que se subdivide em três
áreas. A primeira inclui objetos feitos entre 1900 e 1920, época em que os usos
apropriados para a produção mecanizada foram ferozmente debatidos. Na segunda,
o internacionalismo é explorado. Já na terceira, há diversos objetos que
mostram a influência do modernismo, de 1920 à 1945.
A galeria “Design a partir de 1945”, na sala
76, roubou meu coração. Em um espaço amplo, com pé direito alto e janelas com
vista para o pátio do V&A, podemos ver cerâmicas, vidros, têxteis, gráficos,
e, claro, móveis que trazem a nossa mente uma gostosa lembrança de tempos mais recentes.
Nossa infância e as velhas fotos de nossos pais... Saudades!
Nela, dois temas são explorados: a inovação tecnológica e a sustentabilidade ambiental, destacando-se o poder influenciador dos designers.
Garden egg chair, desenhada by Peter
Ghyczy, feita por Elastogran GmbH, 1968-71.
Seguindo-se a ordem cronológica, a galeria é dividida
em quatro períodos com seus respectivos estilos dominantes.
O período desde o final da Segunda Guerra
Mundial até meados da década de 1970 foi um período de grande tensão política e
excepcional criatividade. Arte e design não eram sintomas periféricos da
política durante a Guerra Fria, ao contrário, eles desempenharam um papel
central na representação e, às vezes, em desafiar as ideias dominantes.
O pós-modernismo destruiu as ideias
estabelecidas sobre estilo e trouxe uma liberdade radical para a arte e o
design. No auge da década de 1980, designers pós-modernos como o grupo Memphis,
Alessi e Arad, contribuíram para a New Wave: anos emocionantes nos quais a
imagem era tudo.






























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